Os Dois Barquinhos de Papel


Os Dois Barquinhos de Papel

Numa tapeçaria de tempo e espaço, uma entidade superior, com mãos de artesão cósmico, dobra com delicadeza duas folhas de papel, moldando-as em frágeis barquinhos. Um deles, sou eu; o outro, és tu. Com um sopro suave, somos depositados nas margens de um rio vasto e desconhecido, as nossas simples dobraduras de origami prontas para a jornada.

Por um tempo, navegaremos lado a lado, as nossas proas quase a tocar, partilhando o mesmo fluxo, as mesmas correntes. A proximidade é um bálsamo, um eco da criação conjunta, um breve interlúdio de união.

Então, inevitavelmente, a distância se instala. Os ventos caprichosos, as brisas traiçoeiras, as tempestades impiedosas e as correntezas implacáveis conspiram para nos afastar. Cada um de nós é lançado à sua própria odisseia, um ponto solitário na imensidão aquática. A fragilidade do papel é um lembrete constante da nossa vulnerabilidade, da efemeridade da nossa existência.

Nesses percursos solitários, dois desfechos se desenham no horizonte. Ou o nosso barquinho, resiliente apesar da sua simplicidade, alcançará o seu porto final, cumprindo o seu destino. Ou, sucumbindo à natureza efêmera do papel, afundará nas profundezas, dissolvendo-se na água que o carregou.

E mesmo que, por um capricho do destino, os nossos barcos se reencontrem antes do derradeiro fim, a verdade inegável permanecerá: estaremos separados. A proximidade física não anula a jornada individual, as batalhas travadas em silêncio, as marcas deixadas pelas águas percorridas.

Esta simbólica narrativa espelha, para mim, a própria essência da existência humana. Nascemos, vivemos, coexistimos e, na maior parte do tempo, somos seres intrinsecamente solitários. Vemos uns aos outros, reconhecemos a presença alheia, mas cada um enfrenta as suas próprias lutas, navega as suas próprias águas, trava as suas próprias batalhas.

É a condição inalienável de tudo o que cumpre o ciclo da vida. A humanidade, por mais que se esforce para tecer laços e construir pontes, não se exime desta verdade fundamental. A solidão da jornada é uma constante, um pano de fundo para a tapeçaria complexa das nossas vidas.

Autor: Alex Sandro Alves para o Blog o Escritor Dislexico

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