Amor proibido, a noiva fantasma da Rua XV de Curitiba - um conto de Alex Sandro Alves

    Como parananense, que está finalizando seu segundo livro: "E se não fosse mentira?" Claro que não deixaria de fora alguns contos passados no meu estado do Paraná!

    Para quem gosta de contos curtos no estilo a que me propus, espero que o agrade, e quem sabe, adquira uma cópia do livro no futuro quanto ele estiver finalizado.

Amor proibido, a noiva fantasma da Rua XV de Curitiba

Fonte: arquivo público - FCC - Fundação Cultural de Curitiba.

 

   O vento frio da serra sempre trouxe segredos para Curitiba, mas nenhum tão gelado quanto a história da Noiva Fantasma da Rua XV. Corria o ano de 1868, e a cidade, ainda em crescimento, começava a se vestir com ares de modernidade, mas as sombras do passado ainda se apegavam às suas vielas de pedra.

    No coração do comércio, onde hoje pulsa a Rua XV de Novembro, havia um casarão imponente, com sacadas de ferro forjado e janelas que espiavam a movimentação dos tropeiros e mascates. Ali morava a bela Isabel, filha única de um rico comerciante de erva-mate. Seus cabelos eram da cor da noite e seus olhos, de um castanho tão profundo que diziam guardar a melancolia de um outono sem fim. Isabel estava prometida em casamento a um jovem fidalgo de Paranaguá, um homem de posses, mas de coração, diziam as línguas afiadas, tão frio quanto as águas da baía.

    A data do matrimônio foi marcada para o dia de São João, com a promessa de uma festa que faria a cidade inteira se curvar. Isabel, no entanto, não compartilhava do entusiasmo. Seu coração já pertencia a outro: um simples entalhador de madeira, pobre de posses, mas rico em sonhos e gentileza. Eles se encontravam às escondidas, sob o véu da noite, e juravam amor eterno, ignorando as barreiras sociais que os separavam.

    Na véspera do casamento, a cidade fervilhava. O casarão estava adornado com flores e fitas, e os últimos preparativos para a união grandiosa estavam em andamento. Mas Isabel, com o coração partido, tomou uma decisão desesperada. Deixou um bilhete para sua ama de leite, a única que sabia de seu amor proibido, e escapou pela porta dos fundos, buscando o entalhador. A idéia era fugir, refazer a vida longe dos olhares julgadores de Curitiba.

 Ele a esperava em um bosque nos arredores da cidade, seu rosto iluminado pela lua e pela esperança. Mas o destino, cruel e traiçoeiro, tinha outros planos. A carroça que levava Isabel, apressada na escuridão, capotou em uma estrada lamacenta. A jovem, ainda vestida com a camisola branca que usaria sob o vestido de noiva, foi arremessada contra uma rocha. Seu corpo foi encontrado na manhã seguinte, pálido e sem vida, como uma boneca de porcelana quebrada.

 A notícia abalou Curitiba. O casamento foi substituído por um funeral, e o noivo, desolado, partiu para nunca mais voltar. Mas a lenda verdadeira começou a surgir após o anoitecer.

 Testemunhas juravam ver uma figura pálida e etérea, vestida de branco, perambulando pela Rua XV nas noites de lua cheia, precisamente no trecho em frente ao antigo casarão de Isabel. Alguns diziam que era o espírito da noiva, procurando por seu amor perdido, o entalhador, que desapareceu misteriosamente após a tragédia, sem deixar rastros. Outros, mais audazes, afirmavam que ela chorava baixinho, um lamento que se misturava ao uivar do vento, e que sua aparição era um aviso de que amores proibidos sempre terminam em desgraça.

 Até hoje, alguns antigos moradores de Curitiba, especialmente os que viveram nas proximidades da Rua XV por muitas décadas, ainda evitam caminhar sozinhos por ali em noites de forte neblina, temendo cruzar com a Noiva Fantasma e ouvir seu lamento solitário. Eles dizem que, mesmo com o tempo, o amor e a tristeza de Isabel ficaram marcados nas pedras da rua, um lembrete assombroso de um destino interrompido.

    #FIM#

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