A Gaia como chamavam os antigos, ou planeta Terra como chamamos nos últimos anos, já existia muito antes dos homens. Suas montanhas se erguiam sem serem perturbadas, seus rios corriam livres, suas florestas respiravam em perfeita harmonia. Então, chegaram os humanos, e com eles, a promessa de progresso — uma promessa que logo se tornaria um fardo.
Nos primeiros séculos, as mãos da humanidade eram pequenas, seus impactos sutis. Mas a fome de conquista crescia. Cada árvore derrubada, cada rio desviado, cada animal caçado desenhava a primeira camada das cicatrizes do planeta. O fogo, antes sagrado, tornou-se ferramenta de destruição, e os solos que antes abrigavam vida passaram a ser explorados sem piedade.
Os milênios avançaram. A ambição se multiplicou, e o planeta sofreu. As florestas, pulmões naturais da Terra, foram dilaceradas. Os mares, antes imensuráveis, tornaram-se depósitos para lixo e produtos químicos. Espécies inteiras foram apagadas como palavras riscadas em um livro antigo.
Veio o tempo das máquinas, das indústrias, das cidades que cresceram como feridas abertas na pele do mundo. O céu, antes límpido, tornou-se um véu cinzento; os rios, outrora cristalinos, tornaram-se espelhos turvos refletindo a decadência humana. O clima, que dançava ao ritmo do equilíbrio natural, começou a se revoltar — tempestades mais violentas, secas impiedosas, calores sufocantes. A Terra chorava, mas poucos escutavam.
Havia avisos. Vozes que clamavam pelo fim da destruição, olhos que enxergavam o inevitável colapso. Mas as engrenagens do progresso continuavam girando, impiedosas, alimentadas pela ilusão de que a Terra suportaria tudo.
Até que um dia, Ela respondeu. Os ventos trouxeram furacões que nenhuma cidade poderia conter. Os oceanos avançaram, reclamando territórios que há muito lhes foram roubados. O solo rachou, expelindo veneno e fogo. Era a Terra em sua fúria, exigindo de volta o que lhe foi tomado.Os humanos olharam ao redor, finalmente compreendendo — talvez fosse tarde demais.
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