📱 O Socialista de iPhone
Era uma vez um jovem chamado Gregório, estudante de sociologia, militante de sofá e dono de um iPhone 15 Pro Max — comprado em 12 suaves parcelas no cartão do pai. Gregório era conhecido por seus discursos inflamados nas redes sociais, onde denunciava o capitalismo selvagem, a exploração do proletariado e a opressão dos bilionários. Tudo isso, claro, postado diretamente do Starbucks, com Wi-Fi grátis e um frappuccino de R$ 28 ao lado.
“Precisamos derrubar esse sistema!”, bradava ele em vídeos gravados com câmera 4K, enquanto usava filtros que deixavam sua pele com brilho revolucionário. “O socialismo é a única saída! Igualdade para todos!”
Mas havia um pequeno detalhe: Gregório não abria mão de suas regalias. Seu guarda-roupa era repleto de camisetas com Che Guevara estampado em algodão egípcio, compradas em lojas que vendem “moda consciente” por preços inconscientes. Seu notebook era um MacBook Air, e seu transporte diário era feito por Uber Black — porque proletariado sim, mas com ar-condicionado.
Certo dia, Gregório decidiu organizar um protesto contra o “sistema opressor”. Chamou seus seguidores para a Praça Central, exigindo fim da desigualdade, taxação de grandes fortunas e, claro, mais verba para artistas independentes como ele. Mas quando chegou lá, percebeu que o 4G estava fraco. Sem internet, sem live. Sem live, sem revolução.
“Isso é um absurdo! Como vou lutar contra o sistema sem conexão?”, reclamou, enquanto tentava desesperadamente conectar seu iPhone à rede de um restaurante próximo.
Um senhor que vendia pipoca olhou para ele e disse:
— Filho, no socialismo que você quer, esse seu celular seria do Estado. E você estaria na fila esperando um modelo de 2012.
Gregório riu, meio sem graça.
— Mas é um socialismo moderno, sabe? Com tecnologia, inclusão digital…
— Ah, claro — respondeu o senhor. — Socialismo com iPhone. Igualdade para todos, desde que o seu seja o mais novo.
A manifestação terminou com Gregório indo embora frustrado, pois o aplicativo de delivery não funcionava e ele teve que comer um pastel de feira. No dia seguinte, postou um texto indignado no Instagram: “O povo ainda não está pronto para a revolução. Mas eu sigo firme, com meu iPhone carregado e minha consciência de classe ativada.”
E assim, Gregório continuou sua luta — até o limite do pacote de dados.
FIM
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