O Desdoutrinador


🕳️ O Desdoutrinador
Um conto libertino sobre ideias que ardem mais que corpos.

Chamava-se Dorian Vélez, mas nas redes era conhecido como O Desdoutrinador. Seu rosto era uma escultura viva — olhos que seduziam como promessas, sorriso que desarmava dogmas, voz que penetrava certezas como punhais de veludo. Influencer? Sim. Mas não de maquiagem ou viagens. Dorian influenciava mentes — e isso, para o sistema, era imperdoável.

Seus vídeos começavam sempre com uma frase provocadora:  
> “Se sua verdade te foi ensinada, ela não é sua. É uma coleira.”

Milhões assistiam. Milhares odiavam. Mas ninguém ignorava.

Dorian não vendia produtos. Vendia rupturas. Questionava tudo:  
- Por que o casamento é considerado sagrado, se foi criado para controlar heranças?  
- Por que o trabalho é virtude, se a maioria trabalha para enriquecer quem nunca trabalhou?  
- Por que a fé exige obediência, se o divino deveria inspirar liberdade?

Ele dizia:  
> “A doutrina é o estupro da dúvida. E eu sou o amante da dúvida.”

📱 Nos comentários, vinham padres, coaches, políticos, mães de família. Chamavam-no de demônio, de perigoso, de arrogante. Mas ele respondia com lógica afiada e charme insolente. Nunca se desculpava. Nunca recuava. E isso o tornava ainda mais magnético.

Um dia, lançou um vídeo chamado “A Prisão Invisível”. Nele, comparava a sociedade a um bordel onde todos fingem prazer, mas ninguém escolheu estar ali.  
> “Você não escolheu sua religião, sua moral, seu patriotismo. Foram enfiados em você como dedos em carne alheia. E você chama isso de identidade?”

O vídeo foi censurado. Mas já era tarde. A ideia havia escapado. Como sêmen em lençóis de dogma, impregnava tudo.

👁️‍🗨️ Dorian começou a ser seguido por jovens que queimavam seus diplomas, por velhos que largavam suas igrejas, por mulheres que deixavam seus maridos sem culpa. Ele não mandava fazer nada. Apenas mostrava que não fazer também era uma escolha.

O sistema tentou calá-lo. Cortaram suas contas, congelaram seus bens, inventaram escândalos. Mas ele reaparecia, como um vírus de lucidez, em novos perfis, novos podcasts, novos corpos.

No fim, Dorian não foi preso. Não foi morto. Foi absorvido. As marcas começaram a usar suas frases em campanhas. Políticos citavam seus vídeos. Igrejas criaram “cultos da liberdade”.  
O sistema, como sempre, não destruiu o rebelde — o domesticou.

Mas Dorian já esperava por isso.  
> “Toda revolução que vira moda é só mais uma doutrina com maquiagem.”

E então, desapareceu.  
Alguns dizem que virou monge. Outros, que vive em orgias filosóficas numa ilha sem Wi-Fi.  
Mas há quem diga que ele está por aí, em cada dúvida que arde, em cada certeza que treme, em cada mente que ousa perguntar:

“E se tudo o que me ensinaram for mentira?”

FIM 

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