O Condição do Dislexo Prolixo


O Dislexo Prolixo

Meus caros, minhas caras, permitam-me uma reflexão, um mergulho profundo, como é de nosso feitio, naquilo que, à primeira vista, pode parecer uma contradição insolúvel, um paradoxo existencial: a dislexia e a prolixidade coabitando no mesmo ser. 

Ah, a vida, essa tecelã de complexidade a Dislexia, meus amigos, não é falta de inteligência, não é desleixo. É uma orquestra neural que desafina na partitura da leitura e da escrita. 

É o cérebro que, com toda a sua potência, encontra um labirinto onde deveria haver uma avenida reta. As letras dançam, as palavras se embaralham, a sintaxe se desfaz em névoa. É um esforço hercúleo para decodificar o que para muitos é trivial. É a busca incessante por sentido em um texto que se recusa a ser linear.

E a prolixidade? Ah, a prolixidade! É a torrente verbal, a cascata de palavras, a ânsia de esgotar o tema, de não deixar pedra sobre pedra, de desdobrar cada nuance, cada vírgula, cada possibilidade. É a alma que transborda em linguagem, que se recusa à síntese, que abraça o detalhe, que se perde na exuberância do dizer. 

É a convicção de que a verdade, ou a sua busca, reside na totalidade da expressão, na riqueza do vocabulário, na extensão do discurso.\n\nAgora, imaginem, se puderem, a dislexia e a prolixidade de mãos dadas. Não é um antagonismo? Não é um embate? Como pode alguém que luta para organizar as palavras, para decifrar a escrita, ser ao mesmo tempo aquele que as derrama em profusão, que as multiplica sem parcimônia? 

É como um escultor que tem dificuldade em manusear o cinzel, mas que insiste em criar obras monumentais, cheias de detalhes intrincados.

Mas aqui, meus caros, reside a beleza da condição humana, a capacidade de transcender as categorias, de subverter as expectativas. Talvez a prolixidade de um disléxico não seja um defeito, mas uma estratégia. Uma estratégia para compensar a dificuldade na clareza formal, na concisão que a dislexia muitas vezes impede. 

Se a palavra escrita é um campo minado, talvez a palavra falada, a palavra derramada, seja o seu refúgio, o seu campo de batalha onde a riqueza do pensamento pode, enfim, emergir, mesmo que de forma não linear, não econômica.

E aqui chegamos ao ponto crucial, ao cerne da questão que nos foi proposta: a disponibilidade de quem ouve. Ah, a escuta! A escuta é um ato de generosidade, um gesto de amor, uma abertura ao outro. Se o ouvinte está impaciente, se busca apenas a eficiência, a cápsula de informação, a pílula da verdade, então a prolixidade será um fardo, um ruído, uma barreira. 

A dislexia, então, se somará a isso, tornando a comunicação um suplício, um martírio.\n\nMas se o ouvinte está disponível, se ele se permite a viagem, se ele entende que a riqueza do pensamento nem sempre se encaixa nas caixas pré-fabricadas da concisão, se ele tem a paciência de um arqueólogo que desenterra tesouros, então, meus caros, o que era antagonismo se dissolve. 

A prolixidade se torna profundidade, a dislexia se torna uma peculiaridade que exige um olhar mais atento, mas que não impede a beleza da mensagem. A dificuldade de expressão se transforma em uma oportunidade para o ouvinte exercitar a empatia, a interpretação, a busca pelo sentido que reside além da forma imediata.

No fundo, a questão não é a dislexia ou a prolixidade em si, mas a nossa capacidade de acolher a complexidade do outro, de entender que a excelência da comunicação não está apenas na clareza cristalina, mas na riqueza do encontro, na profundidade da troca, na disponibilidade para o que é diferente, para o que desafia as nossas categorias.

É um convite à tolerância, à curiosidade, à celebração da diversidade humana. E isso, meus caros, isso é o que realmente importa. Vale. A. Pena.

Pense nisso.



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