Edson, o Dislexo
Edson nasceu com olhos curiosos e mãos inquietas. Desde pequeno, as letras dançavam diante dele como folhas ao vento — nunca paravam no lugar certo. Na escola, os colegas riam quando ele lia “cavalo” como “clavão”, e os professores, sem preparo, apenas o rotulavam de preguiçoso. Mas Edson não era preguiçoso. Ele era disléxico. E ninguém parecia entender.
Aos 16, largou os estudos. Não por falta de vontade, mas por cansaço. Cansaço de tentar se encaixar num mundo que não o via. Começou a trabalhar como ajudante de pedreiro, depois como servente em uma fábrica de tijolos. O salário era baixo, o esforço alto, mas Edson seguia firme. Cada parede que levantava era uma forma de dizer: “Eu existo.”
Com o tempo, aprendeu a ler o mundo de outras formas. Sabia identificar o tipo de solo pelo cheiro, prever chuva pelo comportamento das formigas, e calcular medidas com uma precisão que deixava engenheiros surpresos. Mas como não sabia escrever relatórios, nunca foi promovido.
À noite, sentado no alpendre de sua casa simples, Edson rabiscava desenhos de ferramentas que poderiam facilitar o trabalho dos colegas. Um dia, um desses esboços chegou às mãos de um engenheiro que viu ali uma ideia brilhante. A ferramenta foi patenteada, e Edson, pela primeira vez, recebeu um reconhecimento — não em diplomas, mas em dignidade.
Ele nunca deixou de ser “o Dislexo”, como o apelidaram. Mas aprendeu que sua forma de ver o mundo, embora diferente, era valiosa. E que sobreviver com pouco não era fracasso — era resistência.
FIM
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