🍺 O Conto da Água Mortal e da Cerveja Salvadora
Numa vila medieval chamada Águas Mouras, reinava uma estranha ironia: o líquido que brotava dos poços era mais traiçoeiro que o vinho barato das tavernas.
Os aldeões, pobres camponeses e artesãos, viviam cercados por florestas úmidas e rios lentos — belas paisagens, mas infestadas por doenças invisíveis. A água, sem tratamento algum, era frequentemente contaminada por fezes, carcaças de animais e todos os horrores que os esgotos da época deixavam escapar. Muitos que a bebiam acabavam tomados pela febre, tremores e uma morte melancólica. Chamavam isso de “doença da água clara”.
Mas eis que surge Mestre Thómas, um monge de olhar tranquilo e mãos calejadas, guardião das receitas fermentadas do monastério. Ele percebeu que algo extraordinário acontecia durante o preparo da cerveja: ao ferver a água com os grãos, as impurezas eram eliminadas. O álcool gerado pelo fermento agia como um escudo contra os microrganismos traiçoeiros. Não era apenas sabor... era salvação líquida.
Assim, aos poucos, a vila trocou os goles de poço pela espuma dourada das canecas. Crianças recebiam versões fracas, chamadas de "cerveja pequena", e até os sacerdotes abençoavam os barris como se fossem relíquias sagradas. A cerveja tornou-se uma ponte entre a sobrevivência e o prazer — um remédio embrulhado em lúpulo.
Nas crônicas da vila, ficou registrado:
"Na terra onde a água mata, é da cerveja que se vive."
FIM
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