A Conspiração das lendas da floresta contra as cidades - Alex Sandro Alves
Sob a abóbada escura da floresta amazônica, a chama bruxuleante no centro da clareira iluminava não apenas os rostos das lendas, mas também as intenções que ardiam em seus olhos. A reunião de vingança prosseguia, mas agora, o foco se voltava para a precisão e o propósito de cada ataque. Nunca antes na história Mãe Terra na qual os antigos chamavam de GAIA precisava de ajuda para sobreviver.
Metas Individuais para a Invasão
Crédido da imagem: Mantinha Perera, que por magia fez a pintura em uma tábua com corantes naturais extraidos da floresta. 2025.
O Curupira, com seus pés virados, bateu no chão com sua vara. "Minha meta não é a morte indiscriminada. Quero que eles se percam em suas próprias cidades labirínticas. O terror da desorientação, o desespero de não encontrar o caminho para seus lares, para suas falsas seguranças. Que sintam o que é ser um forasteiro em seu próprio habitat, assim como nos fazem sentir na floresta."
A Caipora, ainda em seu porco-do-mato, acenou. "Eu busco o pânico. O grito que ecoa pelas ruas, a corrida desesperada. Quero que a tecnologia que tanto idolatram falhe em protegê-los. Sem luz, sem comunicação, apenas o som do medo e a sensação de que a natureza, enfim, os alcançou."
A Iara, com sua beleza sobrenatural e olhar enigmático, sorriu tristemente. "Minha meta é a sedução para a reflexão. Não os afogarei em massa, mas os atrairei para as margens de seus rios poluídos, para as fontes e lagos de seus parques. Lá, em minha presença, eles verão a beleza que destruíram e sentirão o vazio que criaram. A cada um que eu puxar para as águas, será uma lição sobre a sacralidade da vida que eles desconsideram."
O Boto Cor-de-Rosa, em sua forma humana, com a pele bronzeada reluzindo à luz bruxuleante, falou com uma voz que parecia ecoar das profundezas do rio. "Minha meta é minar a confiança. Infiltrar-me em seus círculos, sussurrar verdades incômodas, expor suas próprias contradições. Quero que duvidem de tudo que conhecem, que a harmonia de suas vidas se desfaça em desconfiança e paranoia. A discórdia interna será sua própria ruína."
O Saci-Pererê, com seu gorro vermelho, saltou em um redemoinho. "Eu quero o caos, mas um caos pedagógico! Que suas coisas se percam, que suas rotinas se desfaçam, que a ordem que tanto valorizam se torne uma piada. Vou roubar suas chaves, trocar suas identidades, apagar seus dados. Que experimentem a impotência e a frustração de não ter controle sobre o que antes parecia tão seguro."
A Matinta Perera, com seu assobio melancólico, inclinou a cabeça. "Minha meta é o tormento psicológico. Não os tocarei fisicamente. Meu assobio, que ecoa nas noites, será o som da consciência. Eles sentirão que estão sendo observados, que suas culpas os perseguem. O medo de algo invisível, inatingível, que os faz questionar a própria sanidade."
O Homem-Pássaro, com suas asas membranosas, rosnou. "Eu busco a perspectiva. Voarei sobre suas construções gigantes, mostrando a eles o quão pequenos e insignificantes são diante da vastidão que destruíram. Minha sombra será um lembrete constante de que há algo maior que eles, algo que eles ignoraram. E se for preciso, serei a tempestade, quebrando o que eles pensam ser inquebrável."
O Corpo-Seco, com seus ossos rangendo, arrastou-se para a frente. "Eu serei o arauto da mortalidade. Minha presença será a lembrança de que são finitos, de que a vida é preciosa e não deve ser desperdiçada em ganância. Farei com que se confrontem com a fragilidade de suas próprias vidas e de seu planeta. Não trarei a morte, mas a inevitabilidade dela, para que valorizem o que resta."
O Mapinguari, exalando seu odor fétido, grunhiu. "Eu sou o desespero. O cheiro da floresta em decomposição, o som da terra sofrendo. Minha presença é a advertência final: eles sentirão o peso de sua destruição, a dor do que causaram. Não matarei, mas farei com que desejem não ter nascido no mundo que estão criando."
Diálogos Éticos entre os Personagens
Um silêncio tenso pairou após as declarações. O Boto, com sua sabedoria aquática, quebrou o silêncio.
Boto: "Entendo a ira de todos, mas precisamos de um pacto. Esta não é uma caçada para saciar a sede de sangue, mas para restaurar o equilíbrio. Devemos usar o medo como ferramenta para a mudança, não como fim em si mesmo. Concordam?"
Curupira: "Sim. O pânico pode ser uma arma poderosa, mas se não houver uma mensagem por trás dele, é apenas caos. A desorientação que busco visa levá-los a questionar suas prioridades, a buscar o caminho de volta à harmonia com a natureza."
Iara: "Minha beleza é um dom, e não a usarei para assassinar, mas para confrontar. As almas que tocarem minhas águas retornarão transformadas, com a memória do que perderam e a possibilidade de um novo caminho."
Saci: "Eles precisam de uma boa sacudida! Mas sim, o objetivo é que aprendam. Não quero que se tornem como nós, mas que entendam que a floresta é viva e deve ser respeitada. Minhas travessuras serão um espelho de sua própria desordem."
Matinta Perera: "O tormento que levarei não será para a loucura permanente, mas para a introspecção. O assobio será um lembrete constante de que há uma dívida a ser paga, uma chance de redenção."
Homem-Pássaro: "A destruição gratuita não me interessa. Eu sou a visão do alto, a lembrança da grandiosidade. Se tiver que quebrar algo, será para mostrar a fragilidade de suas certezas, não para eliminar vidas."
Corpo-Seco: "Minha presença é um choque. Não é sobre a morte, mas sobre a vida. Que vejam o resultado final da negligência, e que isso os motive a valorizar cada momento e a preservar o que é essencial."
Mapinguari: "O cheiro da floresta moribunda é para ser sentido, não para ser inalado até a morte. A dor que busco evocar é a dor da perda, para que eles parem de causar mais perdas."
A Caipora, com um aceno, fechou a discussão. "Então, que seja. A mensagem é clara: o limite foi atingido. A Amazônia não está morta, apenas adormecida. E agora, ela despertou."
A tensão na clareira diminuiu, substituída por uma determinação sombria. O plano estava traçado, as metas definidas. A vingança da floresta amazônica não seria um massacre, mas uma lição inesquecível, um despertar brutal para a humanidade. As luzes da cidade, em breve, seriam ofuscadas pela escuridão primordial da natureza.
E você, caro leitor, como você imagina a reação da população e das autoridades ao encontrar essas lendas em suas cidades?
#FIM#
Até a próxima postagem!
O Autor
Comentários
Postar um comentário