📖 O Conto Bem-Humorado de Ranulfo, o “Internalizado”
Por Alex Sandro Alves
👉 Esse conto mostra como o humor pode ser uma forma de resistência diante da injustiça.
Ranulfo era o tipo de trabalhador que a empresa inteira dependia, mas ninguém percebia.
Se a impressora travava, chamavam Ranulfo.
Se o sistema caía, era Ranulfo quem reiniciava.
Se o café acabava, adivinha quem ia comprar? Ranulfo.
Ele acumulava funções como quem coleciona figurinhas: sem aumento, sem bônus, sem elogios. Era o verdadeiro “faz-tudo” — mas com a diferença de que, ao contrário das ferramentas multifuncionais, ele não vinha com manual de instruções nem garantia estendida.
O problema é que, de vez em quando, o cansaço pregava peças.
Um dia, ao invés de mandar o relatório para o chefe, Ranulfo enviou para o grupo da família. Resultado: a tia Elza respondeu perguntando se “aquele gráfico de produtividade” tinha a ver com a colheita de milho.
Outro dia, esqueceu de colocar açúcar no café da diretoria. Foi quase tratado como um atentado contra a humanidade.
E foi assim que nasceu a fama injusta: nos bastidores, apelidaram-no de “Internalizado”, como se fosse um vírus corporativo que ninguém confia.
— “Esse Ranulfo não é confiável”, cochichavam.
Curiosamente, ninguém lembrava que ele tinha acertado 99 vezes antes. O erro número 100 virava manchete interna, como se fosse escândalo nacional.
Ranulfo, com seu humor peculiar, começou a brincar com a situação.
— “Se eu errar mais, talvez me promovam a gerente de falhas”, dizia rindo.
Ou ainda:
— “Sou tão internalizado que já virei parte do sistema operacional da empresa. Só não tenho botão de desligar.”
No fundo, Ranulfo sabia que sua história era a de muitos trabalhadores invisíveis: aqueles que carregam o peso da engrenagem, mas só são lembrados quando um parafuso escapa.
E, para não perder a graça, ele decidiu criar sua própria filosofia:
“Se errar uma vez em cem é motivo de fama, então sou uma celebridade do erro. Só falta o tapete vermelho.”
FIM
Comentários
Postar um comentário