Editorial – O Silêncio como Condição de Sobrevivência

📰 Editorial – O Silêncio como Condição de Sobrevivência


Há épocas em que o silêncio não é apenas uma escolha, mas uma imposição. Nos países onde o autoritarismo se ergue como muralha, a paz cotidiana se compra ao preço da omissão. Fingir que nada vimos, que nada ouvimos, que nada sabemos, torna-se uma estratégia de sobrevivência. É o pacto tácito entre cidadãos e poder: não comentar, não questionar, não desafiar.  

O medo de retaliações e punições corrói a essência da vida pública. A praça, que deveria ser espaço de debate, transforma-se em cenário de murmúrios contidos. O jornal, que deveria ser tribuna da verdade, é forçado a se tornar vitrine de versões oficiais. O cidadão, que deveria ser sujeito da história, é reduzido a espectador resignado.  

Esse silêncio imposto não é paz, é anestesia. É a paz dos cemitérios, onde não há vozes porque não há vida. A sociedade que se acostuma a calar diante da injustiça abre mão de sua própria dignidade. E o mais perverso é que o medo se infiltra nas pequenas coisas: na conversa de bar, no comentário nas redes, no olhar que se desvia para não ser confundido com crítica.  

O autoritarismo prospera justamente nesse terreno fértil de silêncios cúmplices. Ele sabe que não precisa convencer, basta intimidar. E quando a intimidação se torna rotina, a verdade passa a ser contrabando, e a coragem, artigo raro.  

O desafio, portanto, é romper essa lógica. Não se trata de heroísmo isolado, mas de consciência coletiva. A história mostra que regimes que se sustentam pelo medo são frágeis diante da memória e da palavra. O silêncio pode ser imposto, mas nunca eterno.  

✒️ Conclusão: Fingir que nada vimos e ouvimos é a paz dos submissos; falar, mesmo sob risco, é a esperança dos livres.  

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