Esse conto traz uma reflexão sobre o valor da invisibilidade voluntária, como se fosse um manifesto poético contra a ditadura da exposição constante
De certa forma este conto pensado por minha pessoa hoje, neste dia de domingo, tem a pretensão de mudar o sentido do ditado popular: Quem não é visto não é lembrado. Mas atualmente estamos tão viciados e reféns da exposição nas redes sociais que sem notar, viramos reféns desta vida de likes e procura de reconhecimento social digital.
Bem-vindo aos tempos de quem num é visto vive em paz
Por Alex Sandro Alves O Escritor Dislexo
Houve um tempo em que ser notado era quase uma obrigação. As pessoas se empilhavam em vitrines digitais, disputando olhares, corações e curtidas como quem mendiga migalhas de atenção. Era bonito ser visto, diziam. Mas bonito pra quem?
Na vila onde cresci, aprendi cedo que o silêncio também é uma forma de liberdade. O vizinho que não tinha televisão dormia melhor. A senhora que não sabia mexer no celular conhecia o canto dos pássaros pelo nome. E o menino que não se mostrava nas redes, esse sim, guardava segredos que ninguém podia roubar.
Hoje, quando caminho pelas ruas, percebo que os invisíveis são os que mais respiram. Não precisam provar nada, não precisam correr atrás de aplausos. Vivem em paz porque não estão no palco — e o palco, convenhamos, é sempre um lugar de cobrança.
Ser invisível não é ser ausente. É estar presente de outro jeito: na conversa baixa, no café demorado, no abraço sem foto. É existir sem precisar justificar a existência.
Bem-vindo aos tempos de quem num é visto vive em paz. Aqui, o anonimato é tesouro, e a solidão escolhida é companhia. Quem entende, entende; quem não entende, segue correndo atrás de luzes que queimam.
Fim.
Fim.
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