🐒 O Macaco de Gravata
Era uma vez um macaco chamado Tobias. Mas Tobias não vivia na selva — ele morava numa cidade grande, usava gravata, batia ponto e dizia “bom dia” mesmo quando não queria. Ele não sabia ao certo por que fazia tudo aquilo, mas sentia que, se parasse, algo ruim aconteceria. Talvez fosse demitido. Talvez fosse excluído. Talvez... fosse livre demais.
Um dia, Tobias encontrou um livro velho no metrô. Nele, lia-se: “O homem nasce livre, mas por toda parte encontra-se acorrentado.” Era Jean-Jacques Rousseau, que acreditava que a sociedade molda o indivíduo, domesticando seus instintos em nome da ordem. Tobias pensou: “Então não sou só eu. Somos todos adestrados.”
📚 A Escola dos Adestradores
Tobias começou a investigar. Descobriu que Michel Foucault falava sobre como instituições — escolas, prisões, hospitais — moldam corpos e mentes. Segundo ele, o poder não precisa gritar; basta observar, punir discretamente, recompensar os obedientes. Tobias lembrou da escola: fila, silêncio, nota. Adestramento.
Em um café, ouviu uma conversa sobre B.F. Skinner, psicólogo behaviorista. Skinner dizia que somos condicionados por reforços: elogios, punições, likes. Tobias olhou para seu celular. Cada notificação era um biscoito. Cada curtida, um “bom garoto”.
🧠 A Jaula Invisível
Tobias visitou uma livraria e encontrou Yuval Noah Harari. Não pessoalmente, claro — mas em Sapiens, Harari explicava que mitos compartilhados, como dinheiro, religião e nação, são construções que nos mantêm unidos... e domesticados. Tobias pensou: “Até minha fé pode ser uma coleira?”
Ele leu também sobre Émile Durkheim, que dizia que normas sociais são como trilhos invisíveis: seguimos sem perceber. Tobias começou a notar como até seus desejos eram ensinados — o carro que queria, o corpo que invejava, o sucesso que perseguia.
🐾 O Treinador Interior
Mas o mais assustador veio quando Tobias leu Carl Jung. Jung falava da “persona” — a máscara que usamos para sermos aceitos. Tobias percebeu que seu adestrador não era só externo. Era interno. Ele mesmo se punia, se moldava, se censurava.
🔓 A Rebelião Silenciosa
Tobias não virou um revolucionário. Não rasgou a gravata nem fugiu para o mato. Mas começou a observar. A cada “bom dia” automático, perguntava-se: “Isso sou eu ou meu adestramento?” A cada desejo, refletia: “Quem me ensinou a querer isso?”
Ele não se libertou completamente. Mas aprendeu a ver as correntes. E às vezes, só enxergar a jaula já é o primeiro passo para sair dela.
FIM
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