O controle remoto da angústia


"Se quer se sentir normal não assista telejornal..."  

Alex Sandro Alves 1975 - ????

🕰️ O Controle Remoto da Angústia

Em uma cidade qualquer, num tempo que poderia ser ontem ou amanhã, vivia Jonas — um homem comum, com hábitos simples e uma rotina previsível. Todas as noites, às 19h em ponto, ele se sentava no sofá com seu café morno e ligava a televisão. Era quase um ritual sagrado: o telejornal.

No início, Jonas acreditava que se manter informado era um dever cívico. Queria entender o mundo, saber dos acontecimentos, participar da realidade. Mas com o passar dos meses, algo começou a mudar. As notícias vinham como pancadas: assassinatos, corrupção, desastres, pandemias, guerras, crises, escândalos. A cada manchete, um suspiro. A cada reportagem, um nó no estômago.

Jonas começou a dormir mal. Sonhava com sirenes, tiroteios, rostos chorando. Sentia-se impotente, como se o mundo estivesse desmoronando e ele fosse apenas um espectador preso ao sofá. A alegria das pequenas coisas — o cheiro do pão, o riso dos vizinhos, o sol da manhã — foi sendo engolida por uma névoa de preocupação constante.

Um dia, ao visitar um médico por causa de dores no peito e ansiedade, ouviu algo inesperado:

— Jonas, seu corpo está saudável. Mas sua mente está em guerra. Você consome tragédia como quem toma café. Já pensou em desligar a TV principalmente nas horas dos telejornais?

Aquilo soou como heresia. Desligar o telejornal? E viver desatualizado e na ignorância?

Mas naquela noite, Jonas fez diferente. Em vez de ligar a TV, saiu para caminhar. Viu crianças brincando, ouviu pássaros, sentiu o vento. E pela primeira vez em meses, sorriu sem culpa.

Com o tempo, trocou o telejornal por livros, conversas, música. Descobriu que estar informado não precisava significar estar afogado em dor e culpa por sua vida ser melhor do que as das vítimas das notícias. Que a realidade também tem beleza, esperança e silêncio.

E assim, Jonas aprendeu que o controle remoto não era apenas um objeto — era uma escolha. E ao escolher desligar o caos, ele finalmente voltou a se sentir... normal.

FIM

Epílogo:

Numa dessas noites após conversar com amigos em um simples churrasco disse essa frase, baseado na minha visão que hoje em dia, assistir televisão, principalmente nas horas dos telejornais regados a notícias no mínimo negativas e que causam desesperança... Talvez desligar a TV seja uma atitude sensata. Acabei escrevendo este simples conto no meu blog. 

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