O Mentiroso e Omisso: a saga dos irmãos do véu


Eis aqui um conto que fiz após uma noite de longa conversa com amigos num intimista churrasco regado a cervejas e assuntos profundos e aleatórios.

Pensei na possibilidade de aventuras existências de 2 irmãos gêmeos na qual um era a verdadeira Face da Mentira e ou outro a Encarnação da Omissão. 

Boa leitura!

O Mentiroso e Omisso: a saga dos irmãos do véu 

I

Numa terra que não se encontra em mapas, onde o tempo escorre como areia entre dedos e as estrelas sussurram segredos aos que ousam escutar, nasceram dois irmãos gêmeos sob o eclipse de uma lua dupla. Seus nomes eram Lian e Noar. Iguais na aparência, mas opostos na essência.

Lian mentia. Não por maldade, mas por instinto. Suas palavras eram como tinta em água — belas, mas turvas. Já Noar omitia. Silencioso, deixava que o mundo interpretasse seus silêncios como verdades. Ambos, à sua maneira, moldavam a realidade.

II

Aos dezesseis anos, receberam uma missão ancestral: encontrar o Véu de Veritas, um artefato perdido que revelava a verdade absoluta a quem o tocasse. Diziam que quem o encontrasse poderia desfazer guerras, curar corações partidos ou... destruir tudo.

Guiados por um mapa que só revelava seus caminhos quando alguém mentia ou omitisse algo, os irmãos partiram. Cada curva do caminho exigia um sacrifício de palavras — uma mentira para abrir uma ponte, um silêncio para fechar um abismo.

III

Na Floresta dos Ecos, Lian mentiu para um espírito guardião, dizendo que era o escolhido. A floresta se abriu, mas os ecos começaram a repetir suas mentiras, tornando impossível distinguir o real do inventado.

Noar, por sua vez, enfrentou o Desfiladeiro das Vozes. Lá, cada passo exigia uma confissão. Mas ele se calou. E o desfiladeiro, respeitando seu silêncio, revelou um caminho oculto — feito não de pedras, mas de lembranças.

IV

Ao chegarem ao Véu de Veritas, foram confrontados por uma entidade antiga: A Testemunha. Ela exigiu que cada irmão revelasse sua verdade mais profunda.

Lian, pela primeira vez, falou sem adornos:  
"Eu minto porque temo que a verdade me torne pequeno."

Noar, com olhos marejados, finalmente disse:  
"Eu omito porque sei que a verdade pode ferir mais do que o silêncio."

O Véu brilhou. Mas não escolheu um deles. Em vez disso, se partiu em dois — um fragmento para cada irmão. Pois a verdade, descobriu-se, não é absoluta. É feita de palavras ditas e não ditas, de mentiras que protegem e silêncios que libertam.

V

Hoje, dizem que Lian se tornou um contador de histórias que ensina verdades através de fábulas. E Noar, um conselheiro que escuta mais do que fala, guiando reis e poetas com seus silêncios.

Ambos vivem — não como heróis, mas como guardiões daquilo que todos buscamos: a verdade que nos cabe ou é conveniente.

FIM 

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