🧠 "O Louco do Semáforo"
Na esquina mais movimentada de Curitiba, entre o açougue do Zé e a farmácia que nunca tem dipirona baratamas só a versao do medicamento mais caro, ficava ele: o Louco do Semáforo. Nome apelido oficial: Arlindo. Nome popular: “O do cartaz”. Nome que ele mesmo se deu: “Último Homem de Verdade”.
Todo dia, às sete da manhã, lá estava Arlindo com seu cartaz escrito em letras garrafais e uma caligrafia que parecia ter sido feita por um fazedor de cartazes de promoção de supermercado, mas simples e objetivo:
“PROCURA-SE MULHERES QUE AMAM HOMENS DE VERDADE.”
A cidade inteira já tinha uma teoria. Uns diziam que ele tinha sido abandonado por uma influencer de Maringá que trocou Arlindo por um corretor de imóveis com carro automático. Outros juravam que ele era um filósofo incompreendido, tipo Nietzsche, só que com mais cabelo e mais ressentimento.
Mas o cartaz era mais do que um desabafo amoroso. Era uma provocação. Uma tese. Uma revolução silenciosa com cheiro de suor e café requentado.
🧩 Os lados da história
Para os homens da cidade — principalmente os que ainda pagavam pensão e lavavam a própria cueca — Arlindo era um herói. Um mártir. Um símbolo da resistência masculina contra o avanço das “mulheres que só querem status e separação com pensão gorda”.
Já para as mulheres, ele era um misto de piada e incômodo. Algumas passavam e gritavam:
— “Homem de verdade lava a louça, Arlindo! Homem que verdade tem que ganhar mais que eu”
Outras apenas tiravam selfies com ele, postavam com a legenda “#Cringe” e seguiam para o pilates.
Mas havia também aquelas pessoas que paravam. Que liam o cartaz com atenção. Que olhavam para Arlindo com curiosidade. Uma delas, dona Célia, viúva e professora aposentada, chegou a perguntar:
— “Mas o que é um homem de verdade, Arlindo?”
E ele respondeu com a solenidade de quem está prestes a ser canonizado:
— “É aquele que não tem carro, mas tem caráter. Que não tem grana, mas tem palavra. Que não tem tanquinho, mas tem vergonha na cara.”
Célia achou bonito. Quase poético. Mas foi embora porque tinha que buscar o neto no judô.
🛠️ O dilema dos honestos
Arlindo não era só um doido com cartaz. Era um representante dos homens invisíveis: os que trabalham, pagam boletos, não têm abdominal definido, não são altos, ricos, bonitos e ricos e ainda acreditam que o amor não deveria vir com cláusula contratual.
Ele dizia que o mundo estava cheio de “mulheres que amam o homem até o primeiro financiamento aprovado”. E que os homens de verdade estavam virando lenda urbana, tipo saci-pererê com carteira assinada.
🎭 O desfecho
Um dia, o cartaz sumiu. Arlindo também. Dizem que foi visto em Londrina, com uma mulher que vendia empadas e ria das piadas dele. Outros dizem que ele foi internado. Mas há quem jure que ele virou coach de relacionamentos e agora dá palestras com o tema:
“Como ser um homem de verdade sem virar um idiota.”
E o semáforo? Continua lá. Vermelho, verde, amarelo. Indiferente ao drama humano. Mas às vezes, quando o sinal fecha e o trânsito para, alguém ainda comenta:
— “Lembra do Arlindo? Aquele do cartaz?”
E outro responde:
— “Lembro. Louco, mas dizia umas verdades.”
Autor Alex Sandro Alves para o Blog O Escritor Dislexo
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