📓 As Loucas Aventuras do Homem que Não Conseguia Mentir: O Diário de Emílio Shinjitsu
🗓️ 3 de março
Hoje descobri que minha maldição ainda está firme e forte. A professora de Filosofia perguntou o que achávamos da aula dela. Eu disse:
> “Achei meio repetitiva e você parece mais empolgada com o som da sua própria voz do que com o conteúdo.”
Silêncio. Olhares. Um colega me deu um tapinha nas costas como quem diz “valeu por se sacrificar”. A professora me deu um trabalho extra sobre ética. Ironia?
🗓️ 12 de abril
Fui ao primeiro encontro com a Júlia. Ela perguntou se eu achava que ela estava bonita.
> “Você está com um vestido interessante, mas acho que o tom de verde não favorece muito seu tom de pele.”
Ela riu. Achei que tinha entendido meu jeito. Mas depois do jantar, ela disse que precisava “pensar sobre nós”. Tradução: nunca mais.
🗓️ 27 de maio
Entrevista de emprego. O gerente perguntou por que eu queria trabalhar na empresa.
> “Porque preciso pagar minhas contas e vocês parecem pagar melhor que o mercado.”
Ele franziu a testa.
> “E o que você acha da nossa missão?”
> “Parece genérica. ‘Transformar o mundo com soluções inovadoras’? Isso não significa nada.”
Não recebi retorno. Surpresa zero.
🗓️ 9 de junho
Aniversário da minha avó. Ela fez aquele bolo de milho que todo mundo finge gostar.
> “Vó, o bolo está seco e tem gosto de farinha crua.”
Ela ficou em silêncio por uns segundos, depois disse:
> “Você sempre foi sincero demais, Emílio. Mas ainda é meu neto preferido.”
Ganhei dois pedaços extras. Vai entender.
🗓️ 21 de julho
Discussão com meu chefe. Ele perguntou se achava que ele liderava bem.
> “Você é autoritário, não escuta ninguém e toma decisões com base em ego.”
Fui demitido no mesmo dia. Mas pelo menos saí com dignidade. E um café derramado na minha mochila.
🗓️ 2 de agosto
Minha mãe me perguntou se eu achava que ela estava envelhecendo bem.
> “Você está com mais rugas, sim, mas isso é natural. Só acho que aquele corte de cabelo não ajuda.”
Ela chorou. Depois riu. Depois me fez cortar a grama como penitência.
🗓️ 15 de setembro
Hoje fui ao psicólogo. Ele perguntou como eu me sentia com minha condição.
> “Sinto que vivo num mundo onde a verdade é uma ameaça. E eu sou o mensageiro que todos querem calar.”
Ele anotou algo no caderno. Depois disse:
> “Talvez você não esteja amaldiçoado. Talvez o mundo esteja viciado em mentira.”
Gostei dele. Talvez volte.
🗓️ 30 de setembro
Decidi escrever este diário para registrar minhas aventuras. Porque, no fim das contas, viver sem mentir é como andar sem sapatos num campo de cactos: doloroso, mas autêntico. E talvez, só talvez, alguém leia isso e perceba que a verdade não precisa ser um inimigo.
Autor Alex Sandro Alves, para o Blog O Escritor Dislexo
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