🪑 A Dança das Cadeiras: Agora os Velhos Somos Nós
Era uma vez uma geração que acordou um dia com dor nas costas e uma notificação do plano de saúde oferecendo desconto em fraldas geriátricas. Tinham acabado de completar cinquenta anos. Cinquenta. Meia centena. Meio século. E, como num jogo cruel de "dança das cadeiras", quando a música parou, perceberam que todas as cadeiras da juventude estavam ocupadas por adolescentes com cabelo azul e diagnósticos autoimpostos de TDAH.
Eles não eram mais jovens o suficiente para usar calça rasgada sem parecer que caíram da escada, nem velhos o suficiente para ganhar prioridade na fila do banco. Estavam no limbo etário: o purgatório da relevância.
Viviam a contradição diária de saber usar o TikTok, mas não entender por que alguém usaria. Sabiam o que era NFT, mas ainda preferiam colecionar selos. Tinham Spotify, mas choravam ouvindo o CD do Roupa Nova. E, claro, sabiam que "cringe" era algo ruim, mas não sabiam se era pior que "boomer".
Com seus pais partindo um a um, foram promovidos — sem aviso prévio — ao cargo de anciãos da família. Agora eram os que sabiam onde ficava o RG de todo mundo, os que lembravam aniversários sem ajuda do Google Calendar, e os que tinham que explicar para os netos que "Wi-Fi" não é um direito constitucional.
A geração Z os olhava com uma mistura de pena e fascínio, como quem observa um animal exótico tentando usar um filtro do Instagram. Eles, por sua vez, tentavam entender como alguém podia se apaixonar por um avatar com orelhas de gato e ainda reclamar da geração que acreditava em horóscopo.
E assim, entre consultas ao ortopedista e tentativas frustradas de entender o metaverso, essa geração foi se dando conta: não pertenciam mais a lugar nenhum. Eram os novos velhos. Os velhos que ainda sabiam dançar, mas agora preferiam cadeiras com encosto lombar.
No fim das contas, aceitaram seu papel com dignidade e uma dose generosa de sarcasmo. Afinal, se a vida é uma dança das cadeiras, que ao menos a deles tenha almofada.
FIM
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