No coração de uma vila escondida entre as montanhas, vivia Lina, uma jovem que carregava nas costas o peso de um sonho que não lhe pertencia.
Desde pequena, seu pai dizia que ela seria campeã de escalada — “a maior que já existiu”. Treinava todos os dias, mesmo quando seus dedos sangravam, mesmo quando sua alma pedia trégua. A cada vitória nos torneios, a glória era dele. A cada derrota, o silêncio da decepção a envolvia como uma neblina gelada.
Um dia, diante da montanha mais alta da região, aquela que chamavam de “Vértice da Alma”, Lina parou. Olhou para o topo, olhou para suas mãos calejadas. E pela primeira vez, se permitiu ouvir uma voz que não era a de seu pai, nem dos treinadores, nem do público. Era a sua.
Desistiu.
Não subiu. Não competiu. Não pediu desculpas.
Foi embora. Para longe da vila. Longe das cordas e carabinas.
🌱 Nos anos seguintes, Lina redescobriu o prazer de caminhar sem pressa, de contemplar paisagens sem desejar vencê-las. Tornou-se ilustradora de livros infantis, desenhando trilhas e montanhas com sorrisos e aventuras doces. Inspirava outras crianças a sonharem com o que lhes fazia bem, não com o que lhes era imposto.
Anos depois, ao reencontrar seu pai, ele disse com voz embargada:
— Pensei que tivesse fracassado, Lina.
Ela sorriu.
— Não, pai. Eu apenas escolhi o meu próprio cume.
FIM
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