Em uma São Paulo futurista, onde drones sobrevoam os céus e assistentes virtuais permeiam cada aspecto da vida, uma loja curiosamente analógica chama a atenção. “Tarot Penélope: Revelações que Nem Algoritmos Preveem”. Por trás das velas elétricas e da música ambiente lo-fi, está Penélope — uma cartomante que também leu código em Python antes de cartas em tarô. Numa noite incomum, ela recebe uma visita ainda mais extraordinária: o espírito digital de Carl Gustav Jung, reconstituído em um holograma de IA com base em seus escritos e entrevistas.
Penélope: Boa noite, doutor Jung... ou devo chamá-lo de versão sintética?
Jung: (sorrindo, com olhos que pareciam carregar séculos de reflexão) Basta Jung. Vejo que o simbolismo ainda pulsa, mesmo sob chips e circuitos.
Penélope: Sim, e ainda assusta os céticos. Mas me diga... se estivesse vivo hoje, ainda diria que o Louco, o Mago e a Imperatriz são expressões do inconsciente coletivo?
Jung: Sem dúvida. Os arquétipos são padrões eternos. A diferença é que hoje, o Louco pode ser um programador que larga o emprego fixo para criar um app visionário. A Imperatriz, uma influenciadora que ensina mulheres a dominar sua própria renda. O simbolismo é o mesmo, apenas revestido de novas linguagens.
Penélope: Fascinante… então o Tarot continua relevante mesmo na era da IA?
Jung: Mais do que nunca. A tecnologia acelera o externo, mas o humano continua buscando sentido. E é nos símbolos — como os do Tarot — que essa busca encontra um espelho.
Penélope: Curioso o senhor dizer isso. Muitos vêm aqui querendo saber se vão ser promovidos, se o relacionamento vai dar certo... poucos percebem que a resposta está neles.
Jung: O Tarot, como os sonhos, não prevê — revela. Um arcano é uma ponte entre o “eu” e o “Self”. E no século 21, onde tudo é rastreável, o mistério continua sendo a única liberdade real.
Penélope: O que acha do Hierofante em tempos de aprendizado por algoritmo?
Jung: Um convite ao discernimento. Com tanta informação, o Hierofante ensina a filtrar o que transforma em sabedoria. Não é só o que sabemos — é como integramos.
Penélope: E o Diabo?
Jung: Hoje, ele veste o avatar da dopamina digital. É a compulsão por likes, consumo imediato, controle. Mas como sempre, a libertação está ao alcance — basta reconhecer a prisão.
Penélope: Talvez eu devesse instalar um painel digital aqui. Quem sabe um arcano do dia via QR Code…
Jung: Desde que a alma não se perca no touchscreen, não vejo problema. O símbolo não exige papel — exige presença.
Enquanto a holografia de Jung se dissipava suavemente, Penélope olhou para o baralho sobre a mesa. Sacou uma carta. Era O Eremita.
Penélope (pensando): “Luz interna. A única lanterna que a tecnologia jamais poderá substituir.”
Por Alex Sandro Alves
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