Nestor sempre foi um homem de certezas. Quando descobriu a seita da Pureza Vital, sentiu que finalmente encontrara um propósito maior. Os seguidores acreditavam na purificação absoluta do corpo: nada de carne, ovos, leite ou qualquer proteína animal. Medicamentos? Impuros. A cura viria pela força do espírito.
Nos primeiros meses, Nestor sentiu-se revigorado. A leveza da dieta e o rigor das práticas o fizeram acreditar que estava no caminho certo. Mas o tempo não perdoa, e o corpo cobra seu preço. Fraqueza. Vertigens. A pele pálida como a lua.
Certo dia, no meio de uma cerimônia, ele desmaiou. A última coisa que viu foram rostos preocupados e uma sensação de flutuar. Acordou no hospital, ligado a uma bolsa de sangue. Ferro, proteínas, tudo o que seu corpo suplicava, mas sua convicção repudiava.
Quando o líder da seita veio visitá-lo, Nestor esperou palavras de apoio. Em vez disso, ouviu um sermão sobre fraqueza espiritual. “Seu corpo é um templo”, disse o homem. “Você o profanou.”
Naquela noite, sozinho na cama do hospital, Nestor encarou a realidade. Sua fé lhe dera um propósito, mas lhe roubara a saúde. Será que ele queria um futuro de hospitais e transfusões? Ou era hora de questionar o que realmente significava cuidar de si?
Ele fechou os olhos. Pela primeira vez em muito tempo, permitiu-se a dúvida.
#FIM#
Comentários
Postar um comentário