Júlio nunca se sentiu tão vitorioso, era 17 de fevereiro de 2010, no dia em que comprou seu carro dos sonhos. Era um VW Golf R32 completo, ano 2008, praticamente em estado de novo, que ele encontrou por um preço tentador em um anúncio online na OLX, mas que precisava ir buscar pessoalmente no sul de Minas Gerais.
O antigo dono, um homem de beleza que não passava desapercebido e de fala arrastada com sotaque latino, parecia muito aliviado ao se livrar do veículo. Júlio não se importou, gastou todas suas econômias acumuladas com muito trabalho durante os ultimos cinco anos.
Ele finalmente teria liberdade para rodar pela pequena cidade no norte do Paraná onde morava, explorar novos lugares e, quem sabe, impressionar garotas que gostavam de rapazes que tinham carros estilosos e de personalidade.
Mas desde o primeiro dia, percebeu que algo estava, digamos: estranho.
O automóvel parecia em momentos pontuais, ter temperamento e vida própria. O motor engasgava sempre que ele tentava buscar alguma garota para sair, mas ligava perfeitamente bem quando ia sozinho. O rádio se sintonizava em estática e chiados sempre que Júlio tentava uma conversa dentro do carro com uma companhia feminina.
Certo dia, ao dar carona para uma colega de trabalho, o banco do passageiro simplesmente travou no pior ângulo possível, forçando a moça a sair desconfortável e irritada.
E foi então que Júlio começou a ouvir com o decorrer dos dias: sussurros e outros barulhos estranhos.
À noite, na garagem, o carro rangia sozinho. O espelho retrovisor refletia formas distorcidas. Algumas vezes, enquanto dirigia, o som do motor parecia formar as palavras: “Só eu, só eu.”
Júlio, assustado, levou o carro a vários mecânicos e autoelétricas. Revisões completas. Mas os diagnósticos eram sempre os mesmos: Os mecânicos em sua maioria diziam: “Cara, tá perfeito. Esse Golf tá em excelente estado.”
Ele tentou vender o veículo. Anunciou, anunciou, abaixou o preço. Mas sempre, na hora de fechar negócio, algo dava errado. A bateria descarregava misteriosamente. A chave sumia por horas e reaparecia depois, como se o carro estivesse brincando de esconder.
Júlio percebeu, então, o que no começo não parecia óbvio: o Golf não queria ser vendido e nem que outra pessoa estivesse dentro do automóvel, principalmente lindas garotas no banco de carona ao lado do motorista.
Embora Júlio não fosse uma pessoa supersticiosa e facilmente influenciável com contos ou lendas urbanas que beirassem as histórias de terror e assombrações, resignado, passou a aceitá-lo e tratar a máquina com respeito, até que podesse descobrir qual era o problema.
Resolveu fazer uma pesquisa mais aprofundada sobre o carro, e até que tivesse uma solução, parou de utilizar o Golf para conhecer novas garotas.
Adquiriu um segundo carro tipo popular para poder trabalhar, se divertir e namorar, na qual utilizava de segunda a sexta-feira. Mas sem explicação e na mesma garagem o seu segundo carro amanhecia com pneus estourados, cabos de velas arrebentados e toda forma de danos sem explicação. Mas o golf estava sempre perfeito... Resumindo, que se livrar de seu segundo carro. O golf ciomento acelerava nas noites de lua cheia e parecia dizer repetidas vezes: " só eu, só eu".
Júlio sentiu que ou era usar o carro assombrado ou ter que andar a pé. Se sentia um refém, pois mesmo que resolvesse ir a pé, subitamente via o Golf prata com vidros escuros quase que um espelho perfeitamente polidos o perseguindo nas ruas e esquinas. Que parava e abria a porta para ele entrar.
Será que estou enlouquecendo, tendo visões de coisas que não existem, ou é um pesadelo que não conseguia acordar.
Júlio mantida o Golf sempre bem cuidado, polido, lavado e sempre com cheiro de novo. Desde que só o dirigir-se só, e na maioria das vezes dirigindo sem destino, ouvindo músicas antigas que o carro parecia tolerar, estranhamente, o automóvel começou a funcionar melhor. Sem panes, sem estranhezas. Era como se estivesse… satisfeito e até normal...
Os anos passaram, e o Golf permaneceu com ele. Ninguém mais questionava por que Júlio nunca conseguia vender e evitava dar caronas para mulheres. Afinal, o automóvel tinha deixado bem claro que ele já estava comprometido com seu carro belo, mas estranhamente: ciumento.
Das poucas vezes que conseguia visitar alguns amigos e ir a eventos que o Golf permitia e que não tinham mulheres no local. Secretamente, tentava pedir ajuda a padres, pastores, psicólogos e aos amigos muito próximos, mas todos insinuavam que era coisas de sua cabeça, outros achavam que precisava passar uma temporada numa casa de repouso para pessoas com problemas mentais...
Certo dia, por indicação de amigos, Júlio resolveu procurar por uma pessoa de uma cidade próxima que muitos diziam ter dons sobrenaturais, e descobria coisas ocultas e ajudava solucionar problemas relacionados a magias, possessões e sobre fantasmas!
Para evitar conhecimento de seu Golf possuído sobre seus planos de se libertar do carro, juntou alguns amigos e foi as escondidas de carona no carro de um deles em busca da senhora que muitos a consideravam uma bruxa poderosa, outros como um anjo bom que a muitos ajudou e ainda ajudava.
Numa casa em uma chácara que parecia cena de filmes de contos de fadas, muito florida e de arquitetura quase medieval, a mais ou menos 15 quilômetros da cidade, morava uma senhora chamada Mãe Tereza, era conhecida como benzedeira, fabricante de medicamentos naturais, as famosas garrafadas, e dotada de uma capacidade sobrenatural capaz de descobrir enigmas ocultos inexplicáveis e quebrar feitiços e maldições poderosas.
Adentrando na sala de atendimento da sacerdotisa, Júlio se sentou na ponta de uma mesa grande e redonda adornada com uma toalha branca com enigmáticos bordados e várias imagens no centro. Na outra cadeira estava sentada Mãe Tereza.
Mãe Tereza vestindo uma roupa estilo cigana com um lenço adornado com símbolos mágicos antigos sobre os ombros, iniciou a conversa.
__ Eu estava a sua espera, Júlio!
Júlio com certa admiração respondeu:
__ Como sabia que eu viria?
Mãe Tereza respondeu:
__ Meus guias espirituais me alertaram dias antes de ter comprado o automóvel que você me procuraria em busca de ajuda.
O automóvel que o Carma ou Destino lhe enviou, foi montado com o chassi e peças originais de desmanche de diferentes automóveis adquiridos em um suspeito ferro velho no interior de Minas Gerais. Uma prática comum nos dias de hoje, onde pagar bem abaixo do valor real é uma prática lucrativa e desonesta. Mas, o preço no final, as vezes é alto demais…
Mas a parte interna do carro os bancos de couro e outras partes, pertenceu ao Golf de uma mulher que amou loucamente seu namorado, mas ele um estrangeiro de origem latina, muito semelhante fisicamente a você, que tinha várias amantes e as enganava e as iludia, agia com se fosse um Don Juan.
Certa noite muito chuvosa e fria Ramon foi passar a noite com uma de suas enamoradas, e ele tinha várias, na maioria ricas e abastadas que literalmente o bancavam financeiramente. Com seu duplo dom de ser bonito e saber dizer o que elas queriam ouvir e parece que lia e realizava seus desejos, como uma espécie de poção do amor as levava a volúpia e ao vício de querer sempre estarem com ele.
Verônica sua namorada oficial, pelo menos da parte dela, uma herdeira rica de um fazendeiro criador de gado e café, sempre foi do tipo dominadora e possessiva. Em seus mais básicos instintos de mulher, desconfiava a tempos da possível infidelidade de Ramon, começou a secretamente segui-lo sempre com um dos diferentes carros que possuía e certo dia descobriu uma possível traição o seguiu no seu carro recém comprado, um Golf do mesmo modelo e ano desse que você comprou.
Durante o trajeto, com a pista molhada, transtornada só em imaginar que o que era dela estava sendo tocada por outra mulher a fez acelerar demais numa curva e como estava sem cinto de segurança colidiu numa árvore e teve e seu corpo arremessado pelo retrovisor e morreu no local.
Sua alma amargurada, ciumenta e possessiva ficou presa ao carro energeticamente. E seu sentimento de posse e ciúmes tinha apenas aumentado com sua trágica morte.
Semanas depois no “ferro velho” que montava automóveis que em perícias passavam facilmente com autênticos, montaram o que você possui com peças de 3 unidades, da qual 2 eram roubados, a parte interna principalmente os bancos de couro eram do Golf de Verônica e se tornaram uma ligação da morta, agora fantasma, que rapidamente possuiu todo o automóvel.
Os mesmos problemas que você observou, o antigo dono do carro passou. Ele coincidentemente era muito parecido com o namorado da vítima, e após muito custo conseguiu se livrar da maldição vendendo bem abaixo da tabela o carro para você.
Júlio disse:
__ Mas isso é algo difícil de aceitar e até acreditar… E como resolver? Porquê logo comigo isto veio a ocorrer?
Mãe Tereza
___Infelizmente certos acontecimentos são decididos pelos Deuses, pelo destino, e infelizmente temos que aceitar e enfrentar… Tudo na vida tem um preço e consequências.
No espírito de vingança da falecida que teve a vida ceifada tragicamente, ela se sente no direito de posse do carro em si e do motorista que por vingança achando que é seu ex namorado, sabota toda situação onde você tenta trazer para dentro do carro e para a sua vida toda e qualquer mulher jovem e bela. Para a entidade é como uma vingança a Ramon que a magoou e traiu… Do ponto de vista dela, você agora a pertence…
Júlio perplexo, pergunta?
___Como me liberto dessa cilada imposta pelo universo? Por favor me ajude…
Mãe Tereza:
___ Existe um jeito, mas você colocara sua vida é de seus amigos em perigo, terá que tomar decisões que o marcarão pelo resto de sua vida e perderá o automóvel…
Teremos que fazer um ritual, que envolverá colocar o carro dentro de círculos mágicos, orações antigas, salgar o automóvel e incendiá-lo…
Naquele mesmo dia, prepararam todo que era necessário para o ritual. Júlio voltou para sua cidade e conduzindo seu sonho que se tornou maldição, tentando demonstrar que tudo estava normal, sozinho fez sua última viagem no Golf R32 prata ano 2008.
Quando Júlio estava chegando no ponto combinado, um terreiro antigo de secar café já pintado os 7 círculos onde ele deveria estacionar o automóvel no centro, como que por intuição feminina o veículo possuído começou a acelerar e rodando em círculos dando cavalos de pau e levantando muita poeira. Com muita dificuldade, nosso herói consegui colocar o Golf dentro do círculo central.Um círculo dentro de outros seis círculos.
Estava claro para todos os envolvidos no ritual que o fantasma do carro assombrado não desistiria sem lutar... Júlio desligou o motor, puxou o freio de mão e tentou sair do automóvel, mas seu cinto de segurança de maneira assustadora o prendeu e não destravava... Mesmo com as forças de vontade de todos os envolvidos, inclusive de Mãe Tereza com suas orações fortes, o carro tentava sair do lugar mesmo desligado...
Para parar o carro tiveram que atirar nos pneus e no motor... Mas a alma penada ainda lutava e entre roncos de motor em altas rotações todos os presentes ouviam misturado ao rangerem dos metais uma voz fantasmagórica de mulher dizendo " Você é meu, só meu..."
Por sorte, momentos antes de vir para o ritual, Júlio tinha combinado que por meio de um falso telefonema entre ele e Marcelo, um dos amigos envolvidos na trama, Marcelo ligaria para ele e na conversa o convidava para um churrasco numa chácara.
Após o fim da conversa em seu Nokia N97 muito bem ensaiada aceitou o convite para o churrasco entre amigos, e tinha passado no posto, completado o tanque e tinha enchido um tanque de combustível sobressalente de gasolina e guardado no porta-malas. E com a desculpa que iria para um churrasco, no apara pés do banco passageiro tinha colocado numa caixa de papelão, um pacote de carvão, um litro de álcool e 2 pacotes de sal grosso além de uma caixa de fósforos e alguns pacotes de salgadinhos. Mas como não existe crime perfeito não comprou cerveja, nem carne ... Errou feio, errou rudi... Quem vai a um churrasco sem levar o principal?
Para escapar lembrou que tinha um pequeno canivete que carregava no em seu chaveiro e cortou o cinto de segurança e fugiu o mais rápido que podia, longe do automóvel. Longe dos 7 círculos pintados no antigo terreirão de cimento…
Os amigos de Júlio juraram ver dentro do carro a mulher fantasma com todo seu ódio e rancor… Seus olhos e face demonstravam sobretudo ódio e sentimento de vingança.
Como garantia de sucesso que o carro pegasse fogo, Júlio e seus amigos jogaram coquetéis molotovs e continuaram atirando até que o Golf começou a pegar fogo e o combustível explodiu. Tando o belíssimo carro como a fantasma eram destruídos com o poder do fogo e da magia.
Mãe Tereza começou a declamar a oração de exorcismo e banimento. Gritos sobrenaturais ecoam de dentro do carro… O incêndio cada vez mais intenso gerava a destruição física do carro que somada das forças do sal grosso, e das Orações, finalmente fez a maldição do carro fantasma sumir.
Para Júlio, o que sobrou foi um misto de sentimento de liberdade da maldição, somado a tristeza da destruição e perca do automóvel que sempre sonhou em possuir. Traumatizado, nunca mais voltou a dirigir.
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