"O Último Café de Herculano"

Aqui está um conto curto e profundo contado pelo filósofo Ataliba, explorando essa dura verdade sobre a substituição e o valor condicionado na qual os humanos impõem a outros humanos. Afinal, com o tempo, todos podem ficar obsoletos e descartáveis... Substituídos!

 

"O Último Café de Herculano"

Herculano já não fazia mais café.  
Durante décadas, sua pequena venda no alto da serra era parada obrigatória para tropeiros, viajantes e vizinhos. O café era forte, o pão de queijo quente, e a conversa sempre boa. Mas agora, com os joelhos gastos e o tempo mais lento, Herculano apenas observava o fogão apagado.

— O senhor ainda abre? — perguntou um rapaz, sem tirar os olhos do celular.  
— Abro, sim. Mas hoje não tem café — respondeu Herculano, com um sorriso triste.

O rapaz fez um gesto de desdém e foi embora. Outros vieram, olharam, viram que não havia mais o que queriam — e seguiram.  

A cadeira de palha onde Herculano se sentava começou a ranger mais alto que as vozes que antes enchiam o lugar.  
O silêncio era novo. Mas não inesperado.

Herculano entendeu, enfim, que não era ele que fazia falta. Era o café.  
Era o pão.  
Era o que ele oferecia.

E quando não se tem mais o que oferecer, o mundo passa reto.  
Não por maldade.  
Mas por costume.

Naquela tarde, Herculano fez um último café. Só para ele.  
Forte.  
Amargo.  
Verdadeiro.

FIM 


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