O Contador de Cargas de Baterias
Por Alex Sandro Alves
O nome dele era Elói. Não Elói de "eloquente", mas Elói de "elétrico", embora sua bateria interna estivesse sempre na reserva. Elói era um contador, mas não de dinheiro. Ele contava as horas que passava em frente à tela, os dias sem ver o sol e as vezes que reclamava do café frio. Ele era o Contador de Baterias e, ultimamente, o saldo estava sempre no vermelho.
Sua vida era um inventário de drenos de energia. O Medo era um parasita silencioso que se aninhava sob sua cama, sussurrando "e se..." a cada novo projeto. O Estresse era o despertador que tocava a cada três horas, mesmo de madrugada. A Bagunça do seu apartamento, uma montanha de papéis e louça suja, era um campo minado visual que o impedia de encontrar a paz. E, claro, havia o Reclamar, um hábito tão arraigado que ele mal percebia que cada murmúrio era um pequeno furo em sua reserva.
Ele vivia na coluna do "TIRA ENERGIA". O Sedentarismo o prendia ao sofá, o Excesso de telas o hipnotizava até a madrugada, e o Trabalhar demais era sua medalha de honra, uma que pesava toneladas. O Ressentimento por uma injustiça antiga era um peso morto que ele carregava nas costas, e o Focar no passado era sua forma favorita de procrastinar o presente.
Uma manhã, Elói acordou com a bateria piscando em vermelho intermitente. Ele não conseguia se levantar. Foi então que, em meio à desordem, ele encontrou um velho bilhete rabiscado, um lembrete de sua avó: "Elói, a vida é um interruptor. Se não está ligada, é porque você não virou a chave."
A chave, ele percebeu, estava na outra coluna.
Com um esforço hercúleo, ele se arrastou até a janela. O Sol invadiu o quarto, e pela primeira vez em meses, ele sentiu o calor na pele. Era uma carga lenta, mas real. Ele bebeu um copo de Água gelada, e a sensação de hidratação foi como um pequeno choque elétrico.
O primeiro passo foi o Movimento. Ele não correu uma maratona, apenas deu dez passos até a cozinha. O segundo foi ligar para um Amigo que não via há anos. A conversa, leve e sem julgamentos, foi um carregador portátil para a alma.
Ele começou a experimentar os outros itens. Colocou Música clássica enquanto limpava a bagunça (a Casa limpa era surpreendentemente energizante). Ele se forçou a sentar em Silêncio por cinco minutos, apenas observando a Natureza pela janela. No início, sua mente gritava, mas com a Meditação, o barulho interno começou a diminuir.
O mais difícil foi o Ressentimento. Ele o substituiu pela Gratidão. Não por grandes coisas, mas pela pequena xícara de café quente, pelo teto sobre sua cabeça, pela chance de recomeçar. Cada "obrigado" sincero era um segmento verde a mais em sua bateria.
Elói não se tornou um super-herói da produtividade. Ele ainda tinha dias ruins, onde o Estresse tentava voltar. Mas agora, ele tinha um manual de instruções. Ele aprendeu que a energia não era algo que se guardava, mas algo que se cultivava. Ele trocou o papel de Contador de Baterias pelo de Jardineiro de Hábitos.
A vida, ele descobriu, não era sobre evitar o que drena, mas sobre priorizar o que recarrega. E a chave, afinal, era simples: virar o interruptor e deixar o sol entrar.
FIM
Sobre o Autor:
Alex Sandro Alves é o criador do Blog O Escritor Dislexo, um espaço dedicado a explorar as complexidades da mente humana e a beleza da escrita, mesmo em meio aos desafios. Sua escrita busca transformar obstáculos em narrativas de superação e autoconhecimento.
O nome do blog não é mera coincidência, o autor é Dislexo....
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