🌿 O Preço da Honestidade Inocente
No vilarejo de São Clemente, onde as manhãs começavam com o canto dos sabiás e as tardes terminavam com o cheiro de pão saindo do forno da Dona Lúcia, vivia um menino chamado Tomás. Tinha apenas nove anos, mas já carregava nos olhos uma sinceridade que muitos adultos evitavam encarar.
Tomás acreditava que dizer a verdade era como regar uma planta: fazia o mundo crescer mais bonito. Seu pai, Joaquim, sempre dizia: “A verdade é como o sol, filho. Pode queimar, mas nunca engana.”
Certo dia, durante uma festa na escola, Tomás viu o filho do prefeito, Dudu, quebrar uma janela e culpar outro colega. Quando a diretora perguntou quem havia feito aquilo, Tomás levantou a mão com firmeza e contou o que viu.
O silêncio que se seguiu foi pesado. Dudu negou, os adultos hesitaram, e a diretora, constrangida, disse que resolveria depois. Mas no dia seguinte, Tomás foi chamado pela mãe, que estava com os olhos vermelhos de choro. O pai havia perdido o emprego na prefeitura. “Disseram que ele não é mais confiável,” murmurou ela.
Tomás não entendeu. Ele só havia dito a verdade.
Nos dias que se seguiram, os vizinhos começaram a evitar a família. Na padaria, o pão vinha frio. Na escola, os colegas cochichavam. Tomás, confuso, perguntava ao pai se havia feito algo errado. Joaquim, com um sorriso triste, respondia: “Você fez o certo. Mas nem sempre o certo é bem-vindo.”
Meses se passaram. A família teve que se mudar para outra cidade. Tomás cresceu com a lembrança daquele dia gravada no coração. Aprendeu que a honestidade, quando inocente, pode ser vista como afronta. Mas também aprendeu que há um tipo de coragem que não se ensina — a de permanecer verdadeiro mesmo quando o mundo prefere mentiras confortáveis.
Anos depois, já adulto, Tomás se tornou professor. E toda vez que um aluno hesitava em contar a verdade, ele dizia: “A honestidade tem um preço. Mas a mentira cobra juros.”
FIM
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