A Última "Voz de Ébano" - em prol dos direitos do homem hétero



*Disclaimer

"Este é claro um conto de ficção, todos os personagens  foram inventados, e demostra, assim como todos os contos, lendas e mitos desse blog a liberdade criativa de seu autor. Qualquer coincidência de fatos ocorridos no futuro é somente mera coincindência, não sendo de maneira nenhuma uma profecia. Leia , divirta-se e permita-se a pensar fora da caixa!"

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A Última Voz de Ébano — Capítulo I

No ano de 2189, quando os céus já não choravam e os mares haviam aprendido a silenciar suas ondas, a humanidade encontrava-se exaurida de si mesma. As ideologias, outrora sementes de esperança, haviam se tornado espinhos que sangravam a convivência. O mundo, em sua ânsia por justiça, havia se curvado ao peso de suas próprias contradições.

Foi nesse cenário que surgiu a Lei Toninho do Morro, batizada em homenagem a um poeta afro descendente marginal que, em vida, cantava as dores dos homens héteros esquecidos. A lei não nascera do ódio, mas da saturação — da necessidade de restaurar o equilíbrio entre vozes que, por muito tempo, foram abafadas ou distorcidas.

A sociedade, agora regida por algoritmos de empatia e tribunais emocionais, havia instituído a Delegacia do Homem Hétero, um espaço onde se buscava compreender os silêncios masculinos, os traumas não verbalizados, e os assédios sutis que, por décadas, foram ignorados sob o véu da indiferença. Ali, homens que outrora se calavam por medo de parecer frágeis, encontravam escuta. Não se tratava de supremacia, mas de reparação. Afinal ser humano na verdade, apesar dos rotulos, são no fim todos apenas seres humanos com visões e desejos diferenciados...

A nova ordem mundial, fragmentada entre coletivos identitários e coalizões afetivas, havia criado um emaranhado de leis que regulavam até os suspiros. O amor, agora burocratizado, exigia contratos de intenção e pagamentos de pensões por vínculos emocionais não consumados. Um beijo não dado podia gerar indenização; um olhar mal interpretado, processo.

Foi então que, em meio ao caos legislativo, surgiu a Lei do Assédio Inverso, reconhecendo que o desejo não tem gênero, e que o abuso pode vestir qualquer pele. Homens héteros, antes vistos como predadores em potencial, passaram a ser reconhecidos também como possíveis vítimas — de mulheres, de outros homens, de qualquer ser que cruzasse a tênue linha entre o afeto e a invasão.

Mas nem tudo era sombra. A arte florescia como nunca. Poetas escreviam com sangue digital, pintores usavam pixels como tinta, e músicos compunham sinfonias com algoritmos de dor. A humanidade, mesmo em sua confusão, ainda sabia criar beleza.

Toninho do Morro, mesmo morto, tornara-se símbolo de uma nova era: não de revanche, mas de escuta. Sua estátua, erguida no centro da antiga Brasília, trazia em sua base uma inscrição:

“Que todos sejam ouvidos, antes que o silêncio se torne lei.”

E assim, entre leis paradoxais e corações em busca de sentido, o mundo seguia — tropeçando, reinventando-se, tentando amar sem ferir, tentando existir sem apagar.


A Última Voz de Ébano — Capítulo II: As Filhas do Vento

Na capital cinza de Nova Brasília, onde os drones substituíam os pardais e os algoritmos decidiam os afetos, vivia Aurora Lys, uma mulher de trinta e sete primaveras, jornalista de alma e jardineira de coração. Ela cultivava rosas em vasos digitais, mas sonhava com raízes reais — com um lar onde o amor não fosse contrato, e o toque não exigisse consentimento registrados em blockchains.

Aurora era uma das chamadas Filhas do Vento — mulheres héteras que, em meio à tempestade ideológica, buscavam homens héteros não como troféus, mas como parceiros, pais, cúmplices. Porém, os tempos modernos haviam criado um paradoxo cruel: os homens, acuados por leis que os tornavam réus antes mesmo do gesto, haviam se retraído. O afeto tornara-se um campo minado. O galanteio, o romance ou o simples ato  de tentar iniciar um romance éra algo perigoso demais para os homens héteros desta década. Ser homem ainda hétero já por si só era uma sentença de estigma de "nasceu culpado". Muitos preferiam a solidão, o Men Going Their Own Way (MGTOW) virou filosofia e religião. 


Personagens Principais

  • Aurora Lys: mulher hétera, idealista, busca amor genuíno e paternidade compartilhada.

  • Gael Moura: homem hétero, professor de filosofia, vive em silêncio emocional após ser acusado injustamente de assédio afetivo.

  • Delegado Érico: responsável pela Delegacia do Homem Hétero, tenta equilibrar justiça e empatia.

  • Toninho do Morro (em holograma gerado por IA): poeta digital, mentor espiritual da nova era.


Cena: Café Nebulosa, 19h47

Aurora encontra Gael após meses de trocas em fóruns de poesia. Ela chega com um vestido de linho e olhos que carregam a esperança de uma geração.


Aurora: “Você não parece um homem perigoso, Gael. Mas dizem que até o silêncio pode ser interpretado como invasão.”

Gael (sorri com melancolia): “Hoje, até o olhar precisa de autorização. Eu já fui acusado por sorrir demais. A moça disse que meu sorriso parecia possessivo.”

Aurora: “E como se ama num mundo onde o afeto virou jurisprudência?”

Gael: “Com medo. Ou não se ama. Eu me escondi atrás de livros, atrás de leis. Mas quando li teus versos, senti algo que não era permitido: vontade de ser pai desejo de ser marido, liberdade de ter romance e interação física.”

Aurora se emociona. Ela havia escrito um poema chamado “Berço sem Nome”, onde descrevia o vazio de criar filhos sem um companheiro ao lado — não por falta de força, mas por excesso de ausência.


Cena: Delegacia do Homem Hétero

Delegado Érico observa os dois através das câmeras de segurança, não por vigilância, mas por curiosidade humana. Ele confidencia ao holograma de Toninho do Morro:

Delegado Érico: “Eles querem amar, Toninho. Mas o mundo os ensinou a temer o amor.”

Toninho (holograma): “O medo é o novo cárcere, Érico. E o afeto, a nova rebelião. Proteja os que ousam sentir.”

Epílogo

Aurora e Gael decidem viver um amor clandestino — não por ilegalidade, mas por pureza. Eles criam um filho chamado Ébano, em homenagem ao poeta que inspirou a lei. E juntos, escrevem um manifesto chamado “O Direito de Amar Sem Medo”, que se torna símbolo de uma nova revolução: não contra ninguém, mas a favor do reencontro entre desejo e dignidade.


Com carinho e respeito!


Alex Sandro Alves



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