O Moralista Sem Moral


🕵️‍♂️ O Moralista Sem Moral

Otávio era conhecido no bairro como o paladino da virtude. Bastava alguém jogar uma bituca de cigarro na calçada, e lá vinha ele com sermões sobre cidadania. Se ouvisse uma conversa sobre traições, já disparava frases como “o mundo está perdido, ninguém respeita mais os valores da família”. Seu vocabulário girava em torno de “decência”, “honradez” e “ética”. Mas bastava olhar um pouco mais fundo para perceber que Otávio era um mestre da hipocrisia.

🎭 Capítulo 1: O pregador do trânsito

Otávio vivia reclamando dos motoristas que não respeitavam as leis. “Esses jovens não têm educação! Ultrapassam pela direita, estacionam em vaga de idoso!” — dizia, indignado.  

Mas ele mesmo tinha três multas por dirigir embriagado, estacionava na calçada “só por cinco minutinhos” e usava uma credencial falsa de deficiente físico para parar em vagas especiais.

💼 Capítulo 2: O chefe exemplar

No trabalho, Otávio fazia questão de dar palestras sobre ética corporativa. “Aqui não toleramos corrupção nem favorecimento!” — dizia, batendo na mesa.  

No entanto, contratava apenas amigos e parentes, desviava verba do orçamento para pagar viagens pessoais e exigia “presentes de agradecimento” de fornecedores.

💔 Capítulo 3: O defensor da família

Otávio se dizia um homem de família. “Casamento é sagrado! Esses jovens de hoje não sabem o que é compromisso.”  
Mas mantinha dois relacionamentos extraconjugais, um deles com a secretária do escritório. Quando foi confrontado pela esposa, disse que “homem tem necessidades” e que ela devia entender.

🗳️ Capítulo 4: O cidadão exemplar

Durante as eleições, Otávio fazia campanha contra políticos corruptos. “Precisamos de gente honesta no poder!”  
Mas ele mesmo vendia seu voto por promessas de cargos, espalhava fake news nos grupos de WhatsApp e já havia sido investigado por fraude em uma associação de moradores.

🧾 Capítulo 5: O guardião da moral pública

Otávio adorava denunciar vizinhos por festas barulhentas, roupas “inadequadas” ou comportamentos “imorais”.  
Mas foi flagrado em um motel com uma adolescente, tentou subornar o policial e ainda teve a audácia de dizer que “foi tudo um mal-entendido”.

🧠 Epílogo: A máscara cai

Um dia, alguém reuniu todas essas histórias e publicou num blog local. Otávio tentou processar, alegando “difamação”. Mas os documentos, fotos e testemunhos eram incontestáveis.  
Aos poucos, o bairro se calou diante de seus discursos. Ele continuava a falar, mas ninguém mais escutava. Sua moral virou piada, sua ética, um fantasma.

E assim, Otávio aprendeu — tarde demais — que quem vive de julgar os outros precisa, antes de tudo, ser capaz de se julgar a si mesmo.

FIM

Por Alex Sandro Alves para o Blog O Dislexo Escritor 

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