Quando os Deuses se Calaram: A Origem do Inverno

Quando os Deuses se Calaram: A Origem do Inverno - um conto de Alex Sandro Alves para o Blog O Dislexo Escritor.
 
Muito antes dos homens contarem o tempo, quando a Terra ainda pulsava em uníssono com os céus, o mundo era governado por divindades antigas. Os gregos conheciam Deméter, deusa das colheitas, mas os povos do Norte reverenciavam Skadi, a gigante da neve e da caça. Mais ao sul, os antigos povos andinos falavam de Supay, guardião das profundezas geladas.

Conta-se que havia um tempo em que a Terra vivia na eterna primavera. Os deuses, em harmonia, mantinham os ciclos suaves e férteis. Porém, um dia, Perséfone, filha de Deméter, foi atraída por uma flor que sussurrava em um idioma desconhecido. Ao tocá-la, a Terra se partiu, e das profundezas emergiu Supay, envolto em neblina e silêncio.

"Venha conhecer o que está além da luz", disse ele, e Perséfone, movida por uma curiosidade ancestral, desceu com ele ao mundo subterrâneo. Lá, as chamas dançavam sem calor, e o tempo passava em sombras.

Deméter, devastada, cessou o crescimento das plantas. Os campos murcharam, os rios esfriaram, e Skadi, sentindo o vazio no ar, fez chover neve sobre a terra, cobrindo tudo com seu manto branco de luto.

Os homens tremiam. Foi a primeira vez que conheceram o frio: o Inverno nascera.

Os deuses, reunidos, fizeram um pacto: Perséfone passaria metade do ano com Supay, no submundo gélido, e metade com Deméter, na superfície. Quando estivesse abaixo, a tristeza se espalharia: Skadi sopraria seu vento, e Supay silenciaria os pássaros. Quando retornasse, a Terra celebraria seu riso com flores.

E assim, até hoje, quando Perséfone desce, sentimos o mundo esfriar — não por vingança, mas para lembrar que até a luz precisa dormir.

#FIM#

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