O Último Romântico


Havia algo de solene na rotina de Artur. Aos 50 anos, seus dias eram pontuados pela previsibilidade: acordava cedo, preparava um café forte e seguia para a livraria onde trabalhava há décadas. Ali, entre prateleiras abarrotadas de histórias de amor e aventura, ele encontrava refúgio. Ironia cruel—ele vendia romances, mas nunca viveu um.

Artur nunca namorou. Nunca foi amado. Não por falta de desejo, mas por uma timidez que virou prisão. Quando jovem, sempre esperava o momento perfeito para declarar seus sentimentos, mas a vida não costuma ser gentil com aqueles que hesitam.

Foi numa tarde chuvosa que sua rotina se rompeu. Enquanto organizava os livros, uma cliente entrou, procurando algo que falasse de esperança tardia. "Um livro sobre recomeços", ela disse, sorrindo. Seu nome era Helena, e sua presença era como um raio de sol atravessando décadas de solidão.

Conversaram sobre histórias, sobre autores que transformavam vidas com palavras. Quando Helena voltou nos dias seguintes, Artur percebeu que não era apenas uma cliente. Ela gostava de ouvir suas opiniões, de compartilhar seus próprios sonhos. Pela primeira vez, ele sentiu que alguém olhava para ele além das capas dos livros.

O tempo passou, e um dia, sem aviso, Helena lhe trouxe um presente: um exemplar de um romance chamado "Nunca é tarde para amar". Nele, uma anotação delicada: "Artur, não espere o momento perfeito. Ele é agora."

Foi ali, entre páginas e chuva, que Artur percebeu algo: a história de amor que sempre esperou não precisava ser grandiosa, apenas verdadeira. E talvez, só talvez, sua vida estivesse prestes a mudar.

#FIM#

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