Raul Seixas -1963–1989
Na penumbra de uma noite invernal, a luz trêmula da lareira projetava sombras dançantes sobre as paredes revestidas de madeiras, pedras e argamassas antigas. O relógio parado marcava 23h47, e o rangido ocasional do piso de madeira dava ao sonho uma atmosfera de mistério íntimo.
Alex Sandro portador de dislexia, que aparentava ter 50 anos, com seu inseparável gravador de voz no bolso para anotações de novas ideias para postagens em seu blog, olhava fixamente suas versões uma mais jovem e uma mais velha e exótica.
À seu lado, Walmir Alexandre um jovem com QI alto mas também um esportista, tinha memória fotográfica tudo se lembrava e era um ótimo orador. Sua versão jovem daquele sonho, era tudo que Alex queria ter sido na vida.
Em sua frente viu Ataliba, uma versão alternativa de ambos, mas muito mais velho e sábio, aparentava ser possuidor de uma personalidade excêntrica e refletia todos os segredos esquecidos. Era um verdadeiro arquétipo do Imperador e Grande Filósofo, estava não se sabe porque, vestindo uma armadura e com um leve sorriso quase igual a de Monalisa, fitava ambos com olhos de quem já viu o tempo girar mais de uma vez.
Alex Sandro: “Às vezes, acho que viver é só isso... preencher páginas de um blog que ninguém lê, como gritar dentro de uma caverna ou se embriagar toda noite numa Taberna só para anestesiar um sentimento de falta que não me recordo, mas faz falta.”
Walmir Alexandre (balança a cabeça): “Mas cada grito ecoa de volta, Alex. E no eco, talvez alguém escute. Ou talvez a gente se escute e se compreenda, afinal eu sou seu alter ego e o senhor que esta conosco é meu amigo Imaginário, eis aqui nessa sala criaturas e criadores se encontram.”
Ataliba (com voz serena): “O sentido da vida não está em ser ouvido. Está em perceber que há som. Que há gesto. Que há fogo... como este na lareira que nos aquece, e que vem dos vosso olhos ao me encarar.”
Alex Sandro: “Mas Ataliba, e se tudo isso for só imaginação? Nós três... 3 versões de mim em um sonho do meu eu que agora no mundo fisico apenas dorme?”
Ataliba: “Ora, e o que é a consciência senão uma sequência de sonhos acordados? Você acha que sou irreal por ser imaginário? Mas você acredita em coisas muito mais invisíveis: amor, tempo, propósito...”
Walmir Alexandre (sorrindo): “Se até o medo é feito de imaginação, por que não fazer do sentido algo imaginado também? E real, de algum jeito.”
O silêncio se espalha por um momento, quebrado apenas pelo estalo da lenha queimando. Alex encontra no chão perto de sua poltrona um caderno encapado de couro, o folheia e nota que o caderno que misteriosamente esta escrito segredos, lendas, mitos, parabolas, uma mais fascinante que a outra, e uma folha solta voa em direção à lareira. Ele não tenta recuperá-la.
Alex Sandro: “Talvez escrever, então, seja só um jeito de aquecer a alma. Como esta lareira.”
Ataliba: “Ou um modo de lembrar, quando o frio vier forte demais, que já fomos quentes por dentro.”
Alex Sandro: Aproveitando este nosso encontro, preciso que me ajudem a saber qual o sentido da vida, especificamete o da nossa existência, poderiam responder?
Quando suas versões jovem e velha iriam responder, a luz vacila. O quarto escurece. E quando Alex acorda, não lembra do sonho inteiro nem de tudo que leu naquele antigo caderno, nem conseguiu a resposta sobre o sentido da vida que havia perguntado as suas próprias versões, mas sente o peito um pouco mais leve — como quem ouviu e leu algo que precisava, mesmo sem entender e lembrar de tudo.
FIM
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