🌺 O Guardião das Feridas Invisíveis 🌺



🌺 O Guardião das Feridas Invisíveis 🌺

Numa aldeia cercada por montanhas antigas, vivia um terapeuta chamado Kael. Seu toque era leve como vento, mas suas palavras desciam fundo, como raízes. Ele acreditava que o corpo era o espelho da alma e que toda dor, por mais cruel, carregava um chamado de cura.

Certa tarde, chegou até ele um senhor de olhos cansados, o peito fechado como pedra. Trazia no diagnóstico um nome temido: câncer.

— Por que isso veio até mim, curador? O que fiz para merecer essa dor?

Kael serviu-lhe chá de camomila e silêncio. Depois, falou:

— O câncer, muitas vezes, é o grito abafado do coração. Ele não nasce apenas da carne, mas daquilo que escondemos no profundo do ser. E há algo particularmente corrosivo que muitos carregam sem perceber: a falta de perdão.

O visitante franziu a testa.

— Perdoar...?

Kael assentiu, firme, porém sereno.

— Quando negamos o perdão, não aprisionamos apenas o outro — nos acorrentamos à dor. As mágoas que guardamos se tornam veneno silencioso. O câncer, às vezes, vem como um mestre severo, colocando-nos frente ao que deixamos inacabado: palavras nunca ditas, perdões nunca dados, feridas que fechamos por fora mas sangram por dentro.

Ele tocou o peito do homem com gentileza.

— A dor quer nos ensinar a soltar. A amar. A limpar os recantos escuros da alma que escondemos até de nós mesmos. Quando se caminha com o câncer, é como atravessar uma floresta onde só a verdade pode ser levada — o supérfluo queima, o ego derrete, e o perdão se torna o único remédio que nasce do espírito.

O homem chorou, e Kael não tentou consolar. Porque sabia: certas lágrimas não são tristeza — são as águas que apagam o incêndio da alma.


FIM 

Comentários