O Eco dos Sonhos: A Maldição de José Eduardo - por Alex Sandro Alves

 

José Eduardo sempre sentiu que havia algo diferente nele. Nascido em uma família de esotéricos, videntes e adeptos de religiões não cristãs, era esperado que tivesse algum dom. 

Mas, para ele, sua habilidade não era uma dádiva – era uma maldição. Todas as noites, ao fechar os olhos, ele era transportado para um futuro não tão distante: o próximo ano. Seus sonhos não eram meras visões, mas vivências reais. Ele caminhava por ruas que as realidades ainda não existiam, conversava com pessoas que ainda não haviam sido marcadas pelo tempo e testemunhava eventos que o mundo sequer imaginava.

O mais aterrorizante era o caos. Em sua mente, cenas de revoltas urbanas, colapsos econômicos, desastres ambientais e conspirações globais desdobravam-se como um filme inevitável. Ele não apenas assistia – interagia. 

Após suas viagens no mundo dos sonhos, José Eduardo tentava após acordar, mudar o curso da história, alertando personagens sobre os perigos que enfrentariam, tentando evitar tragédias. Mas, sempre que tentava mudar o futuro, via suas palavras sumirem no vazio do tempo.

Frustrado e cansado de ser um espectador impotente do futuro, decidiu compartilhar suas experiências. A geração Z confiava no digital mais do que no físico, e ele encontrou refúgio em suas redes sociais. Criou um audiobook, descrevendo com detalhes cada visão, cada tentativa de alterar o destino, cada resposta que recebia dos habitantes do futuro. 

Seu perfil viralizou. Pessoas do mundo inteiro começaram a acompanhar suas premonições, algumas acreditando, outras zombando. Mas, o verdadeiro impacto veio quando os eventos começaram a acontecer exatamente como ele descrevera.

Com o tempo, percebeu que não bastava apenas prever. Precisava encontrar um meio de fazer o presente escutar. Mas o futuro era implacável – sempre respondia em seus sonhos:

"Você vê, mas não muda. Você avisa, mas não impedirá. Você é apenas o eco do que está por vir."

E José Eduardo, o jovem amaldiçoado pela clarividência do tempo, continuava a lutar contra um futuro que já estava escrito. 

Durante a noite de 09 de junho de 2025, em uma das cidades satélites onde residia aos redores de Brasilia, capital federativa do Brasil, não foi diferente, teve 4 visiões distintas durante a sua noite de sonho.

Visão 1: O Colapso Urbano

Em seu sonho, José Eduardo se vê em uma metrópole sufocada pelo caos. O trânsito está completamente parado, não por congestionamento, mas porque um ataque digital derrubou todos os sistemas de controle de tráfego. Semáforos piscam sem sentido, aplicativos de mobilidade falham e um blecaute tecnológico paralisa a cidade. Ele conversa com um engenheiro de sistemas que trabalha desesperadamente para restaurar os comandos, mas o ataque já foi programado para se repetir. Ele alerta o homem sobre a próxima ofensiva, mas o engenheiro apenas balança a cabeça, impotente.

"As pessoas não acreditam no que ainda não aconteceu, mesmo que seja inevitável."

Visão 2: A Revolta dos Recursos

Ele desperta em meio a protestos inflamados. Filas intermináveis de cidadãos brigam por acesso à água potável, que agora está sendo severamente racionada devido a uma seca prolongada. O governo anuncia medidas de emergência, mas as revoltas crescem. Em um cruzamento tomado por manifestantes, José Eduardo conversa com um jovem ativista, que lhe diz que a crise foi prevista anos antes, mas ninguém agiu. Ele tenta convencê-lo a buscar uma solução pacífica, mas o ativista responde com olhos ardentes:

"Não há paz quando a sede fala mais alto que qualquer política."

Visão 3: A Manipulação da Informação

Sentado em um café futurista, ele vê telas piscando em todas as direções. Mas há algo estranho: cada pessoa recebe notícias completamente diferentes sobre o mesmo evento global. Algumas acreditam que ocorreu uma invasão militar, outras que foi uma catástrofe natural. A verdade foi distorcida por algoritmos que filtram informações com base na emoção de cada indivíduo. Ele encontra uma jornalista desesperada, tentando divulgar dados reais, mas ela confessa:

"A verdade não existe mais, só versões fabricadas para cada grupo."

Visão 4: A Estação Perdida

No meio de um deserto gélido, José Eduardo vê uma base científica destruída por uma explosão. Pesquisadores correm, tentando salvar equipamentos e registros sobre uma descoberta monumental – algo que mudaria a compreensão da vida fora da Terra. Ele encontra um dos cientistas, que lhe diz que a revelação foi considerada perigosa demais para a estabilidade global, e por isso, a pesquisa foi sabotada antes mesmo de ser publicada. José Eduardo pergunta o que eles descobriram, mas antes que o cientista responda, tudo se desfaz e ele acorda.

"Algumas verdades não podem ser reveladas sem consequências."

Com seu audiobook viralizando, as pessoas começam a se perguntar: será que José Eduardo está simplesmente sonhando ou será que estamos apenas ignorando um futuro já anunciado?


#FIM#

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