Antes da sua conversão, Sérgio levava uma vida marcada pela inquietação e pela busca de significado em meio ao caos do mundo moderno. Aos 23 anos, ele já havia experimentado diversas fases: momentos de entusiasmo com novos projetos, seguidos por longos períodos de frustração e incerteza. A sensação de vazio o acompanhava como uma sombra, tornando cada dia uma batalha silenciosa contra a desesperança.
Ele havia tentado encontrar sentido em diferentes caminhos. Por um tempo, mergulhou no mundo da tecnologia, fascinado pelas promessas da inteligência artificial e do avanço digital. Chegou a estudar programação e explorar teorias sobre o futuro da humanidade, mas nada disso respondia suas perguntas mais profundas. O futuro parecia cada vez mais incerto, e as mudanças no mundo apenas aumentavam sua ansiedade.
Buscou distração nas tendências culturais, acompanhando filmes, músicas e discussões sobre filosofia contemporânea. Mas, no fundo, sentia que tudo aquilo era superficial, incapaz de preencher a lacuna que crescia dentro dele. As crises existenciais pioravam conforme os dias passavam, e ele se via cada vez mais perdido. A ideia de um apocalipse iminente não lhe parecia absurda—na verdade, ele temia que aquilo fosse real e que não houvesse esperança para ninguém.
Foi nesse contexto que, sem perceber, começou a se distanciar daquilo que antes ocupava seu tempo. As noites insones se tornaram mais frequentes, e a angústia do desconhecido o consumia. Até o dia 19 de junho de 2025, Sérgio era um homem à deriva, esperando que algo o despertasse—que algo maior lhe mostrasse o caminho. E, no momento certo, a fé o encontrou.
A angústia de Sérgio não surgiu do nada; foi uma construção gradual, resultado de diversos fatores que se entrelaçavam e formavam um peso difícil de carregar. Alguns dos principais elementos que contribuíram para essa sensação foram:
1. O mundo em colapso Sérgio não conseguia ignorar os sinais que via ao seu redor: desastres naturais cada vez mais violentos, conflitos políticos e sociais, a incerteza econômica e a crescente dependência da tecnologia para resolver problemas que antes eram humanos. Ele sentia que algo estava errado, que a humanidade estava se afastando de sua essência, e isso gerava uma inquietação constante.
2. A crise existencial A pergunta sobre o propósito de sua vida era um tormento diário. Ele não encontrava respostas que o satisfizessem, e cada tentativa de preencher o vazio—seja com tecnologia, cultura ou distrações passageiras—parecia insuficiente. O futuro lhe parecia nebuloso e sem direção, e essa falta de propósito o consumia por dentro.
3. O medo do desconhecido A sensação de que algo grande estava por acontecer o atormentava. Ele não sabia explicar, mas havia um pressentimento de que os próximos meses trariam transformações inevitáveis. O medo do apocalipse, que antes parecia um exagero, começou a se tornar uma ideia plausível. E ele se perguntava: se o fim está próximo, estou pronto para enfrentá-lo?
4. A solidão interior Mesmo rodeado de amigos e familiares, Sérgio se sentia sozinho. Era uma solidão que vinha de dentro, como se ninguém pudesse compreender plenamente sua angústia ou oferecer respostas que aliviassem sua inquietação. As conversas superficiais e o cotidiano mecânico apenas reforçavam seu isolamento emocional.
5. A falta de fé Embora tivesse sido criado em uma cultura onde a religião era presente, ele nunca a abraçara de verdade. Achava que podia seguir sem ela, que sua mente racional e analítica bastaria. Mas, quando todas as respostas falharam e o peso do mundo ficou insuportável, percebeu que talvez a fé fosse o que sempre lhe faltou.
Todos esses fatores se acumulavam dentro de Sérgio até aquele dia 19 de junho de 2025, quando ele finalmente encontrou o que buscava: um sentido maior, um abrigo espiritual, uma maneira de sobreviver ao caos. A fé não apagou sua angústia, mas lhe deu forças para enfrentá-la.
O Chamado de Sérgio
Na manhã de 19 de junho de 2025, Sérgio acordou com a obrigação quase que imposta por seus amigos que participavam do movimento de Campistas da Igreja Católica, de ajudar na preparação das ruas para a procissão de Corpus Christi. O trabalho era simples: espalhar tapetes de serragem colorida, organizar os altares e garantir que tudo estivesse pronto para a celebração. Ele nunca se importara com religião; via tudo aquilo como tradição, algo que acontecia todos os anos sem grande significado para si.
Mas, naquela tarde, enquanto alinhava cuidadosamente as cores na calçada, algo dentro dele mudou. Era como se, por um instante, o mundo ao seu redor tivesse silenciado. O som das conversas, o farfalhar da serragem, até mesmo o vento — tudo pareceu suspenso no tempo. E então, surgiu um pensamento que não era seu, ou talvez sempre tivesse estado ali, esperando ser notado.
"E se eu precisasse de algo maior do que eu para sobreviver ao que está por vir?"
As notícias estavam cheias de presságios sombrios. Os sinais do fim dos tempos pareciam se desenrolar como um roteiro inevitável. Enchentes devastadoras, conflitos incontroláveis, uma humanidade que cada vez mais se afastava de sua essência. Ele sempre tentara ignorar, acreditar que tudo era um exagero midiático, uma ilusão coletiva. Mas, agora, ali de joelhos sobre as ruas de sua cidade, preparando a passagem do Santíssimo Sacramento, sentiu uma verdade avassaladora: ele precisava acreditar.
Naquela noite, pela primeira vez em anos, Sérgio entrou na igreja por vontade própria. As velas tremulavam no altar, a imagem de Cristo pairava acima dele como um olhar compreensivo e eterno. O sacerdote falava sobre fé como um abrigo, como a luz que não se apaga, mesmo quando tudo ao redor parece mergulhado na escuridão. E Sérgio soube — não era apenas fé, era sobrevivência.
Ao longo das semanas seguintes, mergulhou nos ensinamentos do catolicismo. Sentia que cada oração o fortalecia contra as incertezas do mundo. Se o apocalipse estivesse realmente acontecendo, então ele enfrentaria o fim com esperança, e não com medo.
E assim, Sérgio encontrou seu caminho, não como um simples espectador da realidade ao seu redor, mas como alguém que escolhera acreditar. Não por necessidade, mas por redenção.
#FIM#
Autor: Alex Sandro Alves
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