A voz de areia - a vida de um dislexo que sabia demais


“A Voz de Areia”

Sandro nasceu com o dom da curiosidade. Desde pequeno, perguntava mais do que respondia, lia devagar, mas pensava rápido. Seus olhos brilhavam diante de um livro, embora as letras dançassem confusas. A dislexia o fez tropeçar onde outros corriam, mas ele descobriu que o conhecimento não está apenas no que se lê, mas no que se vive.

Com o tempo, Sandro não só se formou em duas faculdades — uma em Ciências Biologicas, outra em Farmácia — como também concluiu quatro pós-graduações, cruzando áreas do saber como quem atravessa oceanos em silêncio. Ninguém o via estudando; viam apenas as conquistas que eram invejadas e julgado como não merecedoras. 

Muitos se mostravam irritados dando indiretas e diretas que ele não era merecedor de estar no mesmo local e as vezes ganhando mais que os perfeitos tanto em leitura, fala e escrita.E foi aí que começou o incômodo de toda a vida de Sandro desde o início ao fim de seus estudos escolares e academicas e na vida profissional.

No serviço público, onde passou com mérito em um concurso disputadíssimo, onde os normais não tiveram êxito, seus colegas notaram algo que os desconcertava: Sandro lhes parecia um idiota, sabia mais do que as aparências apontavam . O julgamento era frequente e o veredito validado por todos que o conheciam, pois sua fala era entrecortada, às vezes desordenada, os pensamentos embaralhados pela urgência de serem ditos. Alguns fingiam não entender.Muitos o evitavam e outros o cortavam no meio da frase, como quem desliga o rádio sem nem saber o nome da música.

Esescivamente  educado, ele não gritava, não confrontava. Mas sua frustração escorria nos olhos, como chuva fina que poucos percebem. O que mais lhe doía não era ser diferente — era ser invisível e as vezes evitado. A desconfiança alheia transformava sua riqueza em ameaça, sua mente em labirinto.

Um dia, cansado de tentar ser ouvido por quem não escutava, Sandro passou a escrever. Letras trêmulas, sim. Lentamente, sim. Mas com um poder que nem ele sabia conter. Seus textos começaram a circular anonimamente pelos corredores da repartição. Falavam de ética, de empatia, de justiça, fazia contos, lendas e mitos.Nas redes sociais e na vida real nos diversos grupos sociais,falavam sobre seus pensamentos expressos em suas escritas, sem mencionar seu nome. Era um anónimo cuja as obras alguns citavam, sem saber que os tinha criado.

Certo dia, um supervisor desconfiado quis saber quem era aquele autor misterioso. E foi um estagiário — o único que nunca o interrompia — quem revelou:  
— É o Sandro.

O silêncio que se seguiu foi mais alto que qualquer grito. Era impossível negar: a voz que todos tentaram calar agora ecoava por escrito, forte como rocha, leve como areia, era no blog e em livros que escreveu.

Sandro nunca pediu respeito. Ele o escreveu. Esqueceu aos poucos a poder das palavras que a doença o impedia de dizer pela sua propria voz, escrever lhe trouxe notoriedade, um pouco de admiração e respeito mesmo que falso. 

Mas ainda sentia que sua tentativa de comunicação era como "jogar pérola aos porcos" e enteu que realmente o que grandes escritores diziam que "profetas e santos nunca são respeitados em sua própria casa e cidade...E decidiu se comunicar por um modo antigo:  palavras escritas em algo que virou retrô: livros! Num mundo onde o vídeo é o áudio e memes são a moda e verdadeiro vício social, pelos menos filtrou os espectadores, somente quem gostava realmente  de ler tinham acesso e o realmente iriam finalmente o intender...

Fim 

Por Alex S. Alves 

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